domingo, 25 de junho de 2017

Mariana Vighi

De há muito que não faço parte de Torcida Organizada e talvez muito pouco possa ajudar. Agora de uma coisa eu sei. Torcer é uma coisa natural. Brota do fundo da alma e ninguém precisa ensinar.

Hoje estão muito preocupados com ensaios e OBRIGAR a quem está do lado a fazer igual. As “Torcidas Organizadas” surgem por diversos motivos, mas falar em filosofia, para mim, já é imaginar que a T. O. é maior do que o Clube.

O jogo é dinâmico. Numa falta à beira da área do Brasil vou estar a cantar ou a vaiar o adversário? Tem bico para fora do estádio que pode significar uma jogada de raça assim como me trazer um desgosto pavoroso. É aí que está o verdadeiro sentido do Torcedor.

A organização é legal para um mútuo apoio, para as excursões e para motivar outros torcedores, mas não pode nos tornar uns marionetes. Olhem o que a tv está fazendo. Tempo milimetrado e, agora, até aquela música de filme hollydiano. Desgraçadamente organizado e cômodo, mas que surrupia as pessoa de irem aos estádios. Não vai tardar a tornar-nos zumbis ávidos por emoções holográficas e jogos de mentirinha.

Salvo um grande erro meu, antigamente o PRN, a Toxa, a Camisa 12, a TOB e outras tantas T. O. lutavam entre si, mas era para gritar mais alto, abafar o som uma da outra, disputando até onde ficar na certeza de que assim o mundo todo saberia de que ali quem mandava era a TORCIDA DO BRASIL.

No caso da “Paixão Rubro Negra”, nos brigávamos quando alguém vinha com uma Bandeira com demasiado branco porque o VERMELHO E PRETO era quem devia reinar sempre no Bento Freitas.

Não raramente alguém lançava um grito diferente e já outro emendava outra palavra e o verso estava pronto. No calor do jogo ganhava alma e em pouco tempo tornava-se um verdadeiro hino. Coisa muito simples, mas que varava décadas.

Charanga, buzina e apitos davam o tom, mas o grito era o carro chefe. O Meião era chamado apenas de “meio”, mas dali transbordava para a Goleira do Placar e para a Goleira dos Fundos. O Pavilhão tentava assistir passivamente, mas, não raramente, acabava contagiado num colosso de arrepiar a alma.


Tudo simples, regado a muito suor, cachaça, pipoca, amendoim, picolé e até vergamotas. A festa era de todos, mas aqueles que quisessem só assistir ao jogo ficavam a lo largo lutando intimamente entre unir-se a turba ou chegar limpinho em casa. Poucos ficavam intactos e no final era aquela baderna legal ao som de algum tambor ou apenas no gogó. Em suma, justificavam aquilo que um dirigente áureo-cerúleo profetizou: “Eles são uns Xavantes!”

Torcida Xavante - abril de 2015
foto: Xavante Munhoso



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