As investigações da Máfia do Apito respigam até no suposto “Esquema Parmalat”. E o Ministério Público quer transformar pressão nos árbitros em crime*
Esquema Parmalat
Foto: Arquivo PLACAR
Reinaldo ao lado de Ives Mendes (de luvas): em 1993 ele já dava as cartas em São Paulo
Faz 12 anos que os corintianos choram a perda do Paulista de 1993. “Esquema Parmalat!”, dizem, em referência ao patrocinador que estampava a camisa do Palmeiras, equipe que ficou com a taça após vencer o Corinthians por 4 x 0 (3 x 0 no tempo normal e 1 x 0 na prorrogação), na partida decisiva da final. O Palmeiras era dirigido por Vanderlei Luxemburgo e tinha um timaço: Roberto Carlos, César Sampaio, Mazinho, Zinho, Evair, Edmundo… O jogo, como sugere o placar, foi mesmo um massacre. Mas, 12 anos depois, Placar colheu fortes indícios de que, além da indiscutível vantagem técnica, o Verdão, para sair do jejum de títulos, também teve um empurrãozinho da Federação Paulista Futebol.
A versão, sustentada até hoje pelos dirigentes, é que o juiz escolhido para aquele jogo saiu em um sorteio, envolvendo os árbitros José Aparecido, Oscar Roberto Godói, João Paulo Araújo e Dionísio Roberto Domingos. Placar não ouviu Domingos. Mas os outros três foram categóricos em dizer: Aparecido foi escolhido (supostamente por Reinaldo Carneiro de Bastos que até este ano comandava a arbitragem em São Paulo e que está sendo investigado pelo Ministério Público), e não sorteado pela Federação.
“Eu cheguei a estar previamente escalado. Mas fiquei de fora porque nunca tive padrinho dentro da Federação, nunca me submeti a nenhum tipo de pressão de dirigentes”, disse João Paulo Araújo, em entrevista gravada à Placar. “Antes do jogo, falaram coisas para o Aparecido, sobre como ele deveria atuar no jogo. Eram coisas que ajudariam o  Palmeiras”, diz João Paulo, que é amigo de Aparecido. Segundo ele, o juiz teria sido orientado a ser “muito rigoroso”  com os cartões e marcações de faltas. Isso, na visão de João Paulo, serviria para ajudar justamente a equipe mais técnica entre os dois adversários: no caso, o Palmeiras.
Capa da PLACAR de junho de 1997
Foto: Arquivo PLACAR
Em 1997, a PLACAR revelava o "esquema Ives Mendes"
Aparecido confirma a versão, que lhe pediram mesmo para ser extremamente rigoroso (um pedido que, curiosamente, não havia sido feito antes da final, ao longo do campeonato). “Me disseram que era para apitar como se fosse a última partida da minha vida, que não era para eu deixar passar nada.” O juiz, porém, nega que isso tenha sido dito para  favorecer o Palmeiras. “Fui escolhido por ter fama de disciplinador mesmo.”
Escolhido? Mas não foi um sorteio, como divulgou a Federação na época? “Sim, foi sorteio. Eu mesmo fiz, com o Ilton José da Costa”, diz Emídio Marques — os ex-árbitros Costa e Marques faziam parte de uma comissão de “notáveis”, que escolhia os juízes. Usaram bolinhas de bingo, teve testemunha? “O sorteio foi na papelzinho mesmo”, diz.
Aparecido foi “muito rigoroso” mesmo com o zagueiro Henrique, do Corinthians, que acabou expulso aos 39 minutos do primeiro tempo. No lance seguinte, porém, aos 41, o mais polêmico de toda a partida, não teve o mesmo critério: Edmundo entrou forte no corintiano Paulo Sérgio na lateral do campo. Carrinho duríssimo. Levou só o amarelo. “É que eu não vi esse lance de frente. Reparo muito na expressão dos jogadores antes de marcar alguma coisa. A expressão do Paulo Sérgio não indicou que foi falta para expulsão. Se eu tivesse visto de frente, teria expulsado o Edmundo com certeza”, diz Aparecido.
Ele jura que pressão de dirigente, só recebeu de Ivens Mendes, ex-diretor de arbitragem da CBF, em 1997, para facilitar a vida dos argentinos na CBF (esquema desvendado por Placar na época), mas afirmou que esse tipo de coisa sempre existiu dentro da Federação Paulista. “Juiz nenhum, em começo de carreira, tem coragem de dar um pênalti contra o Corinthians no Pacaembu. Se fizer isso, não apita nunca mais.”
Pressão sobre juiz é crime?
A decisão de 1993 entre Corinthians e Palmeiras voltou à tona por conta das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal. Convictos de que os dirigentes dos clubes, e sobretudo das federações, fazem pressão para que juízes protejam algumas equipes, eles tentam agora transformar “pressão em árbitros” em crime.
Agora, pela primeira vez, o assunto vai ser investigado de forma oficial. E um dirigente já é suspeito: o vice-presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos, que atua há mais de 15 anos de entidade.
O Ministério Público de São Paulo abriu um Procedimento Criminal Administrativo (equivalente a um inquérito) para investigar denúncias de árbitros contra ele. Não são apenas as declarações de Danelon e Edílson, cujas palavras, agora, têm pouca credibilidade. Outros árbitros e assistentes forneceram informações segundo as quais Bastos exerceria  pressão sobre a arbitragem antes de algumas partidas, recomendando que estes “olhassem com carinho” a situação de determinadas equipes. A partir da semana que vem, estes juízes serão chamados para confirmar suas acusações em juízo. O árbitro paranaense Héber Roberto Lopes, citado indiretamente por Gibão em seu depoimento à CPI dos bingos, também será intimado a depor nesse novo tipo de inquérito.
“Pressão sobre a arbitragem”, em princípio, não se encaixa em nenhum crime previsto no nosso Código Penal, mas o MP já o classifica como violação ao Código do Torcedor. Assim, caso seja indiciado, Bastos e eventuais outros  dirigentes responderiam a, pelo menos, um processo civil. Muita lama ainda virá pela frente.
A anatomia de um jogo suspeito
http://www.youtube.com/watch?v=oF8oj5_vurI
1- Por que a arbitragem de José Aparecido foi tão contestada?
Confira os lances decisivos da partida:
- 37min do 1º tempo:
Zinho faz 1 x 0 Palmeiras

- 39min do 1º tempo: Henrique é expulso, após falta em Edílson. Ele leva o segundo amarelo
- 41min do 1º tempo: Edmundo dá um carrinho perigosíssimo em Paulo Sérgio na lateral do campo, aos pés do auxiliar Oscar Roberto Godói, e leva só o amarelo
- 16min do 2º tempo: Ronaldo, que já tinha o amarelo, faz falta em Edmundo fora da área é expulso. Na confusão, Tonhão, do Palmeiras, leva o vermelho também
- 29min do 2º tempo: Evair faz 2 x 0
- 38min do 2º tempo: Edílson faz 3 x 0
- 9min do 1º tempo da prorrogação: Edmundo é derrubado por Ricardo, e Aparecido dá pênalti. Ezequiel reclama e leva vermelho. Evair cobra e decide de vez o campeonato.

Corinthians x Palmeiras na final do Paulista de 1993
Foto: Arquivo PLACAR
José Aparecido na polêmica final do Paulista de 1993
2- Por que Aparecido não “deveria ser escalado”?
Aparecido era um dos principais árbitros da FPF desde 1990, quando apitou a decisão do Brasileiro entre São Paulo x Corinthians. Mas, em 1993, ele vinha de uma arbitragem muito contestada num jogo “semifinal” entre São Paulo x Corinthians. O resultado, Corinthians 1 x 0 São Paulo (30 de maio), classificou o Corinthians para a decisão. O gol do Corinthians teria sido feito por Neto em suposto impedimento. E Aparecido e seus auxiliares anularam um gol legal de Palhinha quando o jogo estava 0 x 0.
3- Mas por que ele “favoreceu” o Corinthians, que seria “prejudicado”  teoricamente por ele mesmo dias depois contra o Palmeiras?
O que diabos a semifinal São Paulo x Corinthians teria com o Palmeiras e o suposto Esquema-Parmalat? Aí é que está. Palmeiras e São Paulo eram os dois grandes times da época. O São Paulo, de Telê. O Palmeiras, cheio de craques da Parmalat. No ano anterior, o São Paulo não deixou que o Palmeiras saísse da fila, ganhando o título paulista. Meses depois, já bicampeão da Libertadores, seria um adversário muito mais difícil para o Palmeiras que o Corinthians de Adil e Ezequiel. A teoria é que Aparecido teria feito o serviço: tirou o São Paulo da parada (já interessado no sucesso do Palmeiras) e completou o trabalho na decisão contra o Corinthians.
4- Por que poderia ter sido João Paulo o árbitro da final?
João Paulo Araújo era também uma das estrelas da FPF, ao lado de Aparecido, Dionísio Roberto Domingos e Oscar
Roberto Godói. Contra Araújo, uma arbitragem ruim no jogo Santos 2 x 3 Novorizontino, pela fase semifinal.
5- O que ocorreu com Aparecido depois de 1993?
Gerente de banco, passou a receber até ameaças de morte. Se afastou por um tempo, mas voltou com tudo anos depois, tornando-se árbitro Fifa. Ele voltaria às manchetes em 1997, acusando (pela Placar) Ivens Mendes (então
presidente da Comissão Nacional de Arbitragem) de mandá-lo ajudar a Argentina, contra a Colômbia, num jogo pelas Eliminatórias. Depois sua carreira declinou.
6- Por que Reinaldo Carneiro Bastos, da FPF, pode ser considerado o “novo Ivens Mendes”?
Assim como acusam Reinaldo, Ivens Mendes barganhava apitos amigos para os times “interessados” em troca de escalas ou geladeiras para os árbitros. Ele até tinha um time de coração (a Francana era o fiel da balança) como  Reinaldo (torcedor do Taubaté). Quem ajudasse a Francana, seria “recompensado.”
* Matéria originalmente publicada na PLACAR 1288 de novembro de 2005
FPF Acontece
Marin, presidente da CBF, é homenageado pela FPF antes da cerimônia
Antes da apresentação da Seleção do Paulistão, a Federação Paulista de Futebol prestou algumas homenagens e em uma delas o presidente Marco Polo Del Nero homenageou o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin.
Além de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin preside o Comitê Organizador Local (COL) para a Copa do Mundo de 2014 e nasceu em São Paulo (SP), no dia 06 de maio de 1932. Ex-ponta direita do São Paulo Futebol Clube entre 1950 e 1952, Marin se formou advogado em 1955 na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, iniciando sua carreira política em 1963 como vereador na cidade de São Paulo.

Na década de 1980 foi Deputado Estadual e Governador pelo ARENA, ocupando o cargo por dez meses após o então governador Paulo Maluf se afastou para disputar uma cadeira na Câmara Federal. José Maria Marin assinou a extinção do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo. Em 1982, tornou-se presidente da Federação Paulista de Futebol, mantendo-se no cargo até 1988. Foi, inclusive, Chefe da Delegação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1986, no México.

Por ser o vice-presidente mais idoso da CBF, sucedeu Ricardo Teixeira quando este renunciou ao cargo de presidente da entidade, em 12 de março de 2012.
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