quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A crueldade do segundo turno


Diferente de uma partida de futebol, onde os últimos quarenta e cinco minutos pode modificar o resultado de um jogo, o segundo turno nas eleições para qualquer governo é uma máscara que acoberta a derrota de um candidato que não conseguiu a majoritária na primeira tentativa.

Se não vejamos. Os senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores já não são eleitos todos na primeira votação definindo o legislativo? Não é o legislativo que cria as leis e aprova o orçamento do executivo? Então?!?!?! Para que oportunizar coalizões e acordos de última hora onde o toma lá dá cá pode se manifestar perniciosamente?

Agora temos Bolsonaro x Haddad onde o candidato do PSL obteve 46% dos votos contra 29% de seu opositor do PT neste primeiro turno. É muita diferença. Dezoito milhões de eleitores a mais entenderam que o representante da direita deveria comandar o destino do País no período de 2019 a 2023.

Se antes a coligação “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” era PSL/PRTB e a coligação “O povo feliz de novo” era PT/PCdoB/PROS como ficarão agora a composição dessas duas forças? É legal? Segundo a lei atual é. Mas quantos arranjos podem surgir nesta hora baseados no jeitinho brasileiro?

Não digo isto por ser partidário desse ou daquele candidato. Muito pelo contrário. Venho numa luta sem igual diante da decepção política apresentada pelas principais agremiações brasileiras.

Milhões e milhões de reais saem da saúde, da educação e da segurança e vão parar nas mãos de “líderes” peçonhentos experts na arte de roubar e ludibriar a boa fé daqueles que os elegem na esperança da ordem e do progresso nacional.

Para sustentar a minha inconformidade com o segundo turno cito ainda o Rio Grande do Sul onde Eduardo Leite atingiu a soma de 2.143.603 votos contra 1.857.335 de José Ivo Sartori e agora todo o mundo tem que voltar às urnas para confirmar o candidato do PSDB ou reconduzir o peemedebista a mais um mandato.

No estado gaúcho a diferença foi menor onde 35,9% contra 31,1% deu a vitória ao ex-prefeito de Pelotas deixando Sartori no segundo lugar. Em qualquer lugar, segundo lugar é segundo lugar e, politicamente falando, não tem vice-campeão.

Alguém pode achar que o meu choro é de perdedor, mas é muito fácil eu provar que não.

Vejam o que acontece Brasil afora: Distrito Federal – Ibaneis 41,9% X 13,9%; Rio de Janeiro – Wilson Wittzel 41,2% X 19,5%; Minas Gerais – Romeu Zema 42,7% X Antonio Anastasia 29%; Rio Grande do Norte – Fátima Bezerra 46,1% X Carlos Eduardo 32,4%; Pará – Helder 47,6% X Marcio Miranda 30.2%, entre outros estados que também terão que confirmar o vencedor do primeiro turno ou eleger alguém incapaz de faturar a rapadura no tempo normal.

Nem me preocupei em ver a qual partido Fulano e Beltrano pertencem porque a ótica aqui é mostrar que esta prorrogação pode alterar a conquista dos vencedores em primeira instância, mas não altera a composição dos eleitos para o legislativo.

Sei que muitos dirão da importância da negociação político-partidária, mas decerto que esta negociação o vencedor pelos números absolutos teria que fazer de qualquer maneira. A menos, claro, se ele conseguir uma vitória esmagadora também nas cadeiras legislativa.

Mas aí, num universo de trinta e três partidos como o nosso, é o mesmo que querer que o nosso time seja campeão invicto. Acontece, mas é raro.

A charge e os números que apresento foram publicados no Diário Popular da cidade de Pelotas/RS no dia oito de outubro de 2018.

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