terça-feira, 18 de setembro de 2018

A pedra filosofal


Ao dar os primeiros passos em direção às novas terras, os primatas sabiam que havia algo a descobrir além das cavernas.

Das armas de osso e pedra lascada à descoberta da roda passaram-se séculos. Um grande avanço, mas queriam mais. Já não andavam de quatro e roupas, carros, aviões e celulares só instigava a necessidade do prazer pelo prazer.

Entre uma guerra e outra o esporte transformou-se num semideus a comandar as emoções liberando ordinariamente o que chamam de adrenalina.

Já na China antiga (três mil anos antes de Cristo) os militares chineses praticavam um jogo que na verdade era um treino militar. Para desestressar formavam equipes para chutar a cabeça do inimigo o que na verdade só aumentava a gana de acabar com todo e qualquer oponente.

Tempos depois o Japão inventou algo mais politicamente correto introduzindo uma bola feita com fibras de bambu. Num campo de duzentos metros quadrados, dezesseis atletas formavam dois times de oito para disputarem as partidas. As equipes eram formadas por integrantes da corte do imperador e talvez por isto entre as regras a proibição do contato físico fosse uma das principais.

Daí a bola foi rolando mundo afora e na Grécia a bola já era feita com uma bexiga de boi. Mas decerto não era qualquer um que se atreveria a jogar porque esta era cheia de areia ou terra.

Na Itália Medieval o futebol surgiu com o nome de “gioco del cálcio” praticado com tanta violência, barulho e desorganização que o rei Eduardo II teve que decretar uma lei proibindo a sua prática. Mas o jogo não terminou porque os integrantes da nobreza criaram uma nova versão com regras que não permitiam a violência onde doze juízes deveriam fazer cumprir as regras do jogo.

E assim o que hoje chamamos de futebol atravessou a idade média com histórias sangrentas devido a verdadeira carnificina entre os praticantes do esporte avassalador.

Lá pelo século XVII o “gioco del cálcio” chegou à Inglaterra e daí em diante a história do esporte bretão é bem mais conhecida. Ganhou regras diferentes, organização e sistematização. A bola de couro passou a ser enchida com ar.

Praticado também por estudantes foi aos pouco se popularizando e em mil oitocentos e quarenta e oito, numa conferência em Cambridge, estabeleceu-se um único código de regras.

No Brasil, Charles Miller é quem tem a honra de ser o percursor do futebol por ter a tido a feliz iniciativa de trazer direto da Inglaterra uma bola e um conjunto de regras lá por mil oitocentos e noventa e quatro.

Eu poderia dizer milhões de coisas mais a respeito da história do futebol brasileiro, mas só pelo fato do mundo inteiro nos conhecer como “O País do Futebol” fico por aqui.

Agora, no futebol nacional temos uma particularidade que não pode passar despercebida. É o treinador. E porque isto? Simples, segundo os dados do Censo Demográfico de dois mil e dez, a população total brasileira é cento e noventa milhões, setecentos e cinquenta e cinco mil, setecentos e noventa e nove brasileiros.

E todos se acham um pouco treinador. Não tem quem não dê o seu pitaco na escalação da Seleção Brasileira ou no time do seu coração. E aja coração porque alguns torcem para mais de um clube.

Daí o que acontece quando um time vai mal? Sobra para o treinador e a cabeça dele é a primeira a rolar.

Mas nem tudo é desgraça neste mundo cruel. Há neste seleto grupo o “Salvador da Pátria”. Aquele que na hora da vaca ir para o brejo é chamado às pressas para reorganizar e dar um novo rumo aos acontecimentos esportivos.

Homem da confiança dos diretores chega com poder absoluto. Um Midas com a tarefa de transformar limões em limonada ante a escassez do precioso metal.

Às vezes, é preciso mais ainda. E para resgatar um projeto vai se atrás da “Pedra Filosofal” porque na alquimia do esporte é preciso transformar uma engenharia que deu errada em algo brilhoso e de pleno sucesso.

E foi isto que o G. E. Brasil fez ao recontratar o treinador Rogério Zimmermann.

Diante do abismo eminente representado pelo Z4 e pelas perdas financeiras e de prestígio praticamente certas, trouxe de volta aquele que já mostrou ser capaz de transmutar fracassos em resultados honrosos.

Agora é bola prá frente. Com muito trabalho e gols porque bola na trave não altera o placar. Não vai ser um primor de futebol, sabemos. Mas gol de canela também vale.


Foto: Carlos Queiroz


Foto: Carlos Insaurriaga

Foto: Xavante Munhoso

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