segunda-feira, 27 de março de 2017

Anjo da Guarda

Quem não tem? Eles estão ali, pertinho ou longe, na espreita da hora certa para agir. Nem precisamos nos preocupar com o relógio, com cobrança ou com lamúrias porque eles chegam quando menos se espera. É através de uma carona, de um socorro, de um abraço, da palavra ou simplesmente chegam, sem motivo algum segundo nossa percepção. Estão ali num apoio irrestrito e muitas vezes inusitado. Acolhem, guiam, protegem de maneira missionária e Divina conforme sua própria natureza.

Quando criança, eu rezava muito para o meu Anjo da Guarda. Hoje cresci, fiquei cascudo, auto suficiente, empedernido até e confesso que o esqueci. Mas quando a coisa apertou, vi o quanto minha mãe estava certa porque meu Anjo da Guarda multiplicou-se e apareceu na forma de várias pessoas. Humanas, de carne e osso como eu, mas com uma sublime acolhida e me fez vencer uma agonia que parecia ter vindo para travar meus planos.

Parente, médico, amigo ou vizinho, muitas vezes é nosso Anjo da Guarda e nem percebemos. Alheios, deixamos passara ao léu, perdendo a oportunidade de reconhecer a importância daqueles que nos amparam sem nada cobrar.

Claro, além de meu Anjo da Guarda, devo agradecer a minha família. Mesmo contrariados entenderam que minha agonia maior nem era o joelho esbodegado, a carne sangrando ou o osso bisbilhotando este mundo de seres sano, bacteriológicos ou até imaginários.

É. Sem vergonha que sou, estava preocupado com o jogo do Brasil que ocorreria à noite contra o líder do campeonato. O Novo Hamburgo vem em excelente campanha, sendo a grande esperança do Interior para desbancar os times da Capital. Já o Rubro Negro vem aos trancos e barranco flertando tanto com o G8 quanto com a famigerada Segundona.

Justamente no melhor ano do Clube em termos de entrada de recursos financeiros, o Time vem capenga, titubeando, criando um novo fenômeno entre os Torcedores. Corneteiros e conformistas disputam a preferência em faceboocks num desgaste ímpar e perturbador.

É neste contexto que meu Anjo da Guarda deu as caras. Sei lá se por compaixão, se por meus méritos ou simplesmente por parceria a este louco, fanático e sem vergonha de ser Xavante ele surgiu de tudo quanto foi canto. Carregou-me para a UPA, anestesiou-me, suturou meu joelho, aplicou-me aquela injeção milagrosa, assou o churrasco, bronqueou (em vão) para eu ficar em casa, levou-me ao Bento Freitas, reservou um lugar especial e seguro, zelou por mim até o apito final e, após tudo isto, levou-me de volta para casa para eu, enfim, relaxar e dar a perna o devido repouso.

Do jogo, pouco a falar porque o resultado abafou toda e qualquer comemoração. Partida trepidante com resultado complicado e que transfere tudo para a última rodada. Um a um indigesto diante de toda a expectativa, de toda a função, mas que adocica a esperança de quem acredita até o fim. É Munhoso, teu Anjo da Guarda é forte, mas não abusa tche.




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