sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Fracasso do interior gaúcho

Correiodopovo.com.br
Porto Alegre, 15 de Fevereiro de 2014
Postado por Hiltor Mombach em 25 de novembro de 2013 - Esportes
Caro Hiltor:
Não sei se terás toda e necessária “audácia” de publicar, uma vez que mexo em algumas questões que bem sei são do teu conhecimento e que abrangem o grosso da formação de opinião gaúcha sobre futebol. Mas, embora reconheça tua isenção, falo assim, porque é meio constrangedor tocar em certos ícones ou temas tidos como invulneráveis.
Em todo o caso, passo a te citar dez causas do fracasso do interior gaúcho em termos de futebol, quando comparados com Santa Catarina. Afinal e em resumo, respondendo a tua própria pergunta: “quem matou o futebol do interior”? Já fiz estudos sérios e profundos e por isso me julgo em posição adequada para ajudar a esclarecer:
1. No Rio Grande do Sul, ao contrário de Santa Catarina, não existe o monopólio de apenas dois clubes sobre todos os demais.
2. A Federação adula a dupla Grenal e desdenha dos interioranos.
3. A Grande Mídia só se envolve com temas que dizem respeito a Grêmio e Internacional. Os outros clubes só merecem algum destaque quando do confronto direto com um dos dois “poderosos”.
4. Nesse sentido, sem demagogia, e sem jogar confetes, tua coluna é uma das raras exceções. Sempre falas sobre os clubes do interior.
5. Os grandes clubes do interior de outrora, principalmente de Pelotas, Rio Grande e Bagé, que marcaram época e sagraram-se todos campeões gaúchos, afundaram juntamente com o declínio de sua pujança econômica.
6. Claramente – e isso pode ser paradoxal, mas é fundamental – falta um jornal gaúcho, tipo “Folha da Tarde Esportiva”, que se dedique ao futebol gaúcho cotidianamente, valorizando ao que se faz nas principais comunidades que possuem clubes na Primeira e Segunda Divisão, como se fazia antigamente. Eu que sou daquele tempo, até como repórter e “correspondente” sei bem do que falo e da importância de ver o seu time prestigiado dia após dia. Hoje, apenas e nada mais, são conhecidos os jogadores da dupla Grenal. Ou não?
7. Nesse caso, o Cruzeiro e o São José são tratados como agremiações “periféricas”, como se pertencessem ao interior. Não pode ser assim. Não é por aí. A gente nem tem informações – absolutamente nenhuma – da obra do novo estádio do Cruzeiro. É como se não existisse. Ou não me diga que não.
8. Os campeonatos estaduais deveriam ter um término ou uma limitação, isso valendo para todos os estados e incluindo os clubes fora das três primeiras séries nacionais, que já estão devidamente organizadas, numa competição, a princípio regionalizada, que deveria integrar a nova Série D brasileira.
9. Sob esse aspecto, a Itália, quase quatro vezes menor do que o nosso território – ou mesmo mais – bota 60 clubes na Série C e quase 180 na D, enquanto nós oferecemos vagas, respectivamente, 20 na C (TRÊS VEZES MENOS!!!) e somente 40 na Série D (Quase CINCO VEZES MENOS!!!). Na Itália, somando as quatro divisões, quase trezentos clubes estão envolvidos em alguma atividade. Ou seja: na proporção, clubes de qualquer biboca, de populações de cinco mil habitantes. Mas, todos têm emprego, desde jogadores, técnicos, massagistas, roupeiros, porteiros e assim por diante.
10. As “copinhas” não passam de embugação, de falta de criatividade, de falácias e mentiras.
11. Quando um clube do interior cresce – ou crescia – alguns segmentos “grenalistas” se eriçam com receio de serem superados. O caso do Juventude com a Parmalat
12. Por sinal, estou curioso para saber qual a reação pública e midiática sobre a consistente e promissora parceria que o Juventude está em vias de firmar. Aqui na cidade, a ciumeira e a dor de cotovelo estão enormemente recrudescidas…
13. A CBF continua, eternamente, agindo como uma megera, não dando a mínima para os clubes menores de onde surgem as grandes revelações, além de não se sensibilizar com o desemprego total, constituindo, ao meu ver, um crime social.n E o Ministério dos Esportes é omisso e tacanho. Só quer aparecer.
14. Ainda sobre o que concerne aos interioranos gaúchos: a maioria se entregou, joga a toalha antes do campeonato estadual começar, sabendo que, no fim de tudo vai dar Grêmio ou Internacional. Aliás, ninguém esquece da frase de alguns anos passados do senhor Francisco Noveletto: “Final de Gauchão sem a dupla Grenal não tem graça”
15. Diante das dificuldades espinhosas, das durezas insuperáveis, ninguém na Capital do Estado, tem ideia de o que ser dirigente de clube do interior. Um radialista, há muitos anos, rotulava o nosso principal certame de “mau caráter”, sugerindo e insinuando que os coitados dos jogadores e seus clubes do interior vendiam suas partidas. Esse mesmo radialista foi chamado por um congênere da mesma empresa, na época, de “chuteira envenenada”. Eu sei quem é ele! Tu deves saber, suponho.
16. O Presidente Fábio Koff, quando estava por cima, mas perdia seus títulos regionais, mesmo originário do interior – chegou a ser técnico do Atlântico de Erechim, sabias? – debochava sobre o Gauchão chamando-o de “Ruralito”. É bonito isso?…
17. Todas essas manifestações e outras similares, com o poder de influenciar a opinião pública, como formadores de opinião, contribuem para o sepultamento da bela história do futebol gaúcho e suas mais fortes tradições, quando decidir títulos com o o interior significava respeito e tratamento de dignidade – o que não mais existe hoje.
18. Sem repercussão na mídia maior, com a lavagem cerebral imposta pela televisão, é impossível dar qualquer espécie de realce ao futebol fora da dupla Grenal.
19. Há que se cumprimentar e dar os parabéns para os clubes do interior que ainda persistem, repletos de problemas, sem a mínima esperança de alcançar um lugar ao sol. Entretanto, há muitos desses dirigentes que só querem se mostrar por uma multiplicidade de razões escusas.
20. Sem um órgão da Mídia que possa refletir, diariamente, os afazeres de cada clube de nosso hinterland – e estou sendo repetitivo, porque isso é de suma e transcendental importância – como é que o torcedor comum, não importa de qual agremiação, poderá acompanhar quem é quem. Daí, a minha luta, o meu empenho, a minha mais ampla torcida para que a “Folha da Tarde Esportiva”, mesmo que seja, a princípio, em três edições semanais, retorne ao convívio de todos os que amamos o futebol e somos fanáticos pelos nossos clubes. Clamo e rogo para que a Rede Record se antene nesse sentido e se dê conta do quanto isso representaria de ganho para o Rio Grande do Sul esportivo. Não mais se pode admitir que não se tenha, entre nós, um jornal de futebol, inteiramente dedicado a todos.
Falta de apoio das “forças-vivas” municipais, especialmente comércio e indústria.
Jogadores que pedem salários incompatíveis com os cofres dos clubes do interior
Cotas de TV absurdamente mal distribuídas. Por que para a dupla Grenal existe uma quantia bem diferente e superior? Logicamente, porque o patamar é outro, reconhecido por todos. O mesmo critério de proporcionalidade deveria existir e não, simplesmente, uma repartição idêntica para todos os demais. Clubes de tradição, com histórico e ranking significativo, deveriam, forçosamente, receber mais. Exemplos: a dupla CaJU e a dupla BraPel, mesmo porque os quatro foram campeões gaúchos e, portanto, num outro status. Depois, viriam, por exemplo, o Novo Hamburgo, o Cruzeiro e o São José, que disputam há muito mais temporadas do que os demais. E assim por diante. Distribuir igualmente é prestigiar os “parasitas sazonais” que só jogam três meses, depois fecham suas portas, podendo, por consequência, pagar salários mais e se sair melhor na competição estadual. O que é uma baita injustiça. Obviamente, os clubes que mantêm atividades o ano inteiro DEVEM ser melhores contemplados. Como irão se sustentar o resto do ano? Aí, eles têm que reduzir seus ordenados, perdendo em qualidade. E com a perda de qualidade, os mais tradicionais só tenderão ao fracasso. Essa igualdade não encontra respaldo em nenhum quesito e são muitos ainda a se levantar. Mas paro por aqui.
Com abraços,
Francisco Michielin

P.S. – Duvido, Hiltor, que alguém tenha um pensamento consciente e coletivo, tão abrangente e tão completo, além de justo.


Um comentário:

  1. Contra-ponto

    Munhoso, tenho alguns pontos a acrescentar,mas o principal deles a meu ver, foi a aceitação do grenalismo, fenômeno disseminado pela mídia nos 70 e a total postura de subserviência dos "gestores" de futebol do interior, somada com a cooptação da juventude do interior,primeiro via TV e agora via internet. Time que não ganha título, perde torcedor e pior, não conquista torcedor. Somos uma raridade nesse universo de fracasso do interior gaúcho, basta olhar as arquibancadas da Boca do Lobo e do Bento do Freitas e ver as idades estampadas nos rostos. O dia que matarem isso na nossa cidade, pode fechar oficialmente os dois clubes e abrir dois CT's um de gremio e um de inter, é o sonho de consumo de muita gente. Outro fator fundamental, a mercantilização e do futebol no mundo, trouxe uma gleba de "investidores e empresários" que compram clubes, jogadores e até treinadores ao redor do mundo e no Brasil. O interior gaúcho, principalmente a metade sul, não acompanhou economicamente esse capitalismo, consequentemente ficou pra trás. Ainda temos dirigentes do interior que dão entrevista declarando amor ao clube da cidae e são conselheiros contribuintes de gremio e inter, em todo o interior, inclusive Caxias. Espero que não em Pelotas, ainda. A aceitação e a subserviênica que eu falei, a meu ver, foram os principais fatores, quem luta com as próprias mãos e os próprios recursos, sem abdicar de seu ideal, um dia vence, infelizmente aceitamos o status quo e ainda agradecemos as "cotas" que o Noveletto enche a boca toda hora. Revolução, os times de interior, ou da sul fronteira, deveriam se desfiliar e fazer uma liga independente, disputar o campeonato regional da região, amistosos com times do Uruguai, Argentina e Paraguai e tentar dentro da lei, se filiar a uma liga desses países ou buscar o direito de jogar com eles. Te garanto que em Pelotas teria casa mais cheia que em jogo contra gremio e inter e o resto. Infelizmente, o futebol no interior está fadado ao fim, na verdade, já acabou, ainda resta Pelotas, Caxias totalmente subserviente a capital, e alguns poucos focos de safristas, como bem foi dito. A parceria do juventude, se não estou enganado, é com o gremio, virou uma sucursal do gremio, forma e bota jogadores no gremio e dizem que estão fazendo um grande negócio. Nos 70 o gremio e o inter levavam os destaques do interior para serem terceiros reservas, somente como estratégia para não deixa os times do interior fortes. O Pelotas teve vários jogadores nessa situação nos 70. Hoje, gremio e inter estão nivelados numa ruindade geral do futebol brasileiro tão grande, que qualquer jogador da base juventude vira "craque" no gremio. Triste...

    PS.: Se não estou enganado, depois confimarei pesquisando melhor, esse jornalista elogiado aí, Hiltor Murbach parece, já trabalhou naquela coisa linda chamada rbs, logo não consigo dar elogio e muito menos credibilidade a ele. Opinião minha, é óbvio.

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