quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Síndrome do Espelho Matinal


Conta a lenda que, certa vez, um cidadão pelotense decidiu escolher um clube de futebol para seu filho torcer.
Primeiramente, foram a um jogo do G. A. Farroupilha e ficaram encantados com o porte atlético dos jogadores e a polidez do presidente ao falar durante as entrevistas. Ainda no intervalo do primeiro para o segundo tempo, descobriram tratar-se de jovens jogadores do 9° Regimento de Infantaria Motorizada e que o dirigente era nada mais nada menos do que Poeta.
Ao final da partida, retornaram ao centro da cidade a pé. Poucas quadras além do Estádio Nicolau Fico, depararam-se com o Cemintério São Francisco de Paula e, por puro azar, neste instante faltou luz e como já era noite, o breu foi total. Entraram em pânico e começaram a ver fantasmas. Correram, correram e nunca mais quiseram saber do Farroupilha.
Alguns anos mais tarde, foram ao Estádio Bento Colosso de Freitas, do G. E. Brasil. Já haviam esquecido o incidente na av. Duque de Caxias mas ambos tinham medo de multidão.
Chegaram bem cedo e acomodaram-se nos degraus mais altos e bem ao centro do gramado para terem uma visão perfeita do jogo.
Meia hora antes do início da partida o povaréu já tomava conta e a Força do Interior cantava alucinada: "Xavante eu sou... Rubro Negrooooooô! Xavante eu sou... Rubro Negrooooooô!"
A partida era especial, C. R. Flamengo, com Zico e cia.; um sonho de jogo.
Já não cabia mais ninguém naquele caldeirão. Há quem diga que foi o maior público na Princesa do Sul, em todos os tempos. Pai e filho olhavam-se quase sem respirar e eis que surge o primeiro gol do Brasil... A Massa explodiu, o filho correu para um lado; o pai debandou para o outro... Nem viram o segundo gol Xavante e, graças a assistência da Brigada Militar, reencontraram-se na Barroso com Princesa Isabel suando frio e tremendo. Foram para casa sem trocar uma palavra sequer.
Duas tentativas e o pai, ainda indeciso, não apontava um rumo para o filho; e isto, no País do Futebol, é desconcertante.
Num belo dia, um domingo ensolarado, resolveu levar o filho no campo do time pertinho de casa, na avenida Bento Gonçalves.
Jogo chocho, morno, mas o time de azul e amarelo ganhou.
Ao final da partida, picolé derretendo, o filho pergunta:
- Paiê, já decidiu?
- Não achou bonitinha a camiseta deste time, filho? Parece a Seleção...
- É, paiê. Mas gostei mais daquele do povão. Posso escolher aquele?
- Pensa bem, filho. Aqui é mais calmo e é pertinho de casa...
- Se o senhor acha... Tá bem, vou ser Pelotas! "Loooooobo! Looooobo!"
Passou mais alguns anos. O piá cresceu, saiu dos cueiros, entrou para a faculdade e nada de ganhar Bra-Pel.
Até que, em 2004, foi a gota d'água. Em plena Boca do Lobo, o G. E. Brasil com apenas nove jogadores conquista mais um Título de Campeão da Cidade.
Foi para casa dormir na esperança de esquecer o fiasco.
De nada adiantou... Eis que, todos os dias, ao lavar o rosto pela manhã, levanta a cabeça e está ali, a sua frente, o espelho a lhe cobrar: "Quem mandou escolher errado?!?!?!"

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