Por: Marcos Sergio Silva11/07/2014
às 12:50 - Atualizado em 11/07/2014 às 12:50
Torcedora brasileira chora após derrota para a Alemanha em
Belo Horizonte | Crédito:
Laurence Griffiths/Getty Images
Torcedores acostumados a assistir jogos pela TV e jogadores descontrolados: a Era Mimimi afundou a seleção brasileira
Pense na seguinte situação: a
Copa do Mundo é na Argentina. Há uma invasão de brasileiros, a maior parte sem
ingresso. Eles acampam nas ruas de Buenos Aires, de Córdoba, de Mendonza, de
Rosário, de La Plata, de Mar Del Plata... enfim, de todas as sedes. Promovem
uma barulheira infernal e não conseguem deixar de ser notados. Pensou?
Pois bem,
agora imagine se isso seria real. Esse afinco com que os nossos vizinhos torcem
por sua seleção, na vitória ou na derrota (lembrem-se de como eles receberam os
derrotados de 2006, com uma invasão no aeroporto de Ezeiza, e compare com a
nossa reação, queimando bandeiras e destruindo uma estátua de Ronaldinho Gaúcho
naquele mesmo ano), nada tem a ver com a torcida pela nossa. Isso não é culpa
só dela, mas de como a CBF a manteve longe do time nacional há, no mínimo, 18
anos.
O torcedor
que a acompanha é, sobretudo, um chato. O jogo, para ele, é mais uma balada em
que foi convidado pelo “amigo diretor de marketing de uma empresa amiga da
CBF”. Ele não tem o costume de assistir ao que é uma partida de futebol. Talvez
tenha a mesma impressão dos norte-americanos que o odeiam: é um jogo chato em
que dificilmente sai um gol.
É a
grande lógica do condomínio. Quer todas as facilidades e o conforto que ele
proporciona. O jogo na TV a cabo, se não estiver bom, abandona e vai na padaria
– de carro, de preferência. Se ele estiver bom, e a favor do seu clube, o larga
do mesmo jeito e vai para as redes sociais contar vantagem de como seu time é
bom. A torcida da seleção é exatamente dessa maneira. Enquanto o jogo rola,
tira selfies, sai de seus lugares caros para comprar comidas e bebidas e os
deixam vazios, sobretudo na volta do intervalo. Se está ruim, ou se está
perdendo, em vez de apoiá-lo, vaia e tenta encontrar culpados: os jogadores, o
técnico, a presidente...
Mas ela
não cabe apenas no estádio. Temi, depois do jogo contra o Chile, que esta
virasse a Copa da vitória do futebol de garotos de condomínio. Não discuto aqui
a origem deles – muitos nem sequer viveram em condomínios antes de ir para o
futebol –, mas a reação. Não acho que é ter culhões pedir para não bater um
pênalti. Também não concordo que o descontrole emocional signifique ter brios
ou uma ponta qualquer de patriotismo. Como exemplo, só coloco que dificilmente
trabalharia com alguém que largasse o fechamento da revista (que é o nosso
prazo fatal, quando ela tem que ir para a gráfica e, se perdermos o tempo
certo, arcamos com custos extras) porque não aguentou a pressão. Homens choram,
mulheres também, todo mundo chora. Descontrole é algo completamente diferente.
É a
lógica do futebol de meninos do condomínio. Na primeira dificuldade, um garoto
chora e o pai ou mãe vai consolá-lo. Ele dá chutes ruins, mas o pai deixa que a
bola entre no gol, para não desagradá-lo. Nunca ouviram deles um “engole esse
choro e vai fazer o que tem que ser feito”. O mundo vai girando, e esse garoto,
já adulto, jamais vai sair da infância. E nunca vai perder essa vocação por
chorar antes de tentar novamente e conseguir.
Não estou
poupando o desastre comandado por Luiz Felipe Scolari, com análises ultrapassadas
e baseadas em livro de auto-ajuda e vídeos motivacionais de caráter duvidoso,
como já escrevi anteriormente. A seleção foi um horror tático e técnico durante
a Copa. Mas, se aqueles atletas vencessem, seria para sempre ressaltada a
“emoção”. Aliás, o tempo todo tivemos que flertar com ela. As reportagens da
emissora oficial da seleção antes de a Copa começar eram todas chorosas, um
apresentador de TV famoso pela “amizade” com os caras do time nacional
interrompeu um treino na concentração, em Teresópolis, para levar um garoto de
17 anos com uma doença congênita. Muitos jogadores caíram em prantos. Sério,
para que isso?
Jornalistas
adoram rotular eras. A Era Pelé, a Era Zico. Em 1990, nosso fracasso foi
apelidado de Era Dunga. Eu arrisco um palpite: o fiasco de 2014 se deve à Era
do Mimimi.
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