POR BOB
FERNANDES, DIRETO DO RIO DE JANEIRO
É simples, Senhores Marco Polo Del
Nero e José Maria Marin: renunciem ao comando da CBF.
Os Senhores são hoje, e há tempos,
responsáveis pelo futebol brasileiro, esse personificado pela “seleção”.
O que o se viu no Mineirão, o que o
mundo assistiu admirado, ou perplexo, foi a seleção mais vitoriosa das
Copas chegar ao fundo do charco.
Este foi o mais deplorável e triste
estágio já alcançado pelo futebol brasileiro.
Não precisam chegar ao harakiri, como
fazem orientais quando envergonham a si e aos seus. Basta entender que os
Senhores fracassaram, que encarnam à perfeição esse fracasso. Basta sair de
cena.
Permitam que a CBF, suas estruturas,
o futebol como um todo se areje, se renove.
Os Senhores comandam o futebol
brasileiro, mandam e desmandam, mas ele e sua riquíssima história não pertencem
aos Senhores.
Os Senhores são herdeiros leais,
fiéis, herdeiros não de sangue, mas de espírito, de uma linhagem.
Os Senhores herdaram a CBF, o futebol
brasileiro, de Ricardo Teixeira e João Havelange. O ex- sogro e o ex- genro se
viram obrigados a abandonar o futebol e –pasmem! – a FIFA.
Abandono com desonra. Por, informou a
justiça suíça com repercussão em todo o mundo, terem recebido suborno.
O mando dos Senhores descende desses
e disso.
Os Senhores são eleitos por
federações que, várias delas, não resistem a uma investigação. Talvez não
resistam sequer a três cliques num site de busca.
Os Senhores podem alegar, e alegam
desde sempre: a CBF é uma entidade privada. Sim, embora seja mais privada do
que entidade.
Essa entidade privada, ou privada
entidade, tem hoje o seu ex-presidente, Ricardo Teixeira, passando temporadas
de auto-exílio na Flórida, na localidade apropriadamente denominada Boca Raton.
O Senhor Teixeira sucedeu seu
ex-sogro, Havelange. Este teve que deixar, e pelo mesmo motivo, também o Comitê
Olímpico Internacional; além de apear-se da presidência de honra da FIFA.
Os Senhores, talvez ainda haja quem
não saiba, se sucedem nesse cargo por que assim quiseram tais antecessores. Os
expelidos do futebol. Simples assim.
Sabemos como funcionam as coisas. Os
Senhores anunciarão medidas drásticas, talvez até espetaculares. (Quem maneja
esse espetáculo, e ganha muito com ele, vai precisar disso).
Quem sabe não reconhecerão em público
que o futebol brasileiro, seus técnicos, táticas, filosofias, jogadores,
precisam de um profundo processo de modernização. Precisam de inteligência, de
buscar para se modernizar as origens que levaram ao sucesso.
Como vimos nessa extraordinária Copa,
enquanto regredimos o mundo todo avançou, quem ainda não sabia já aprendeu a
jogar.
O Brasil desaprendeu, como vimos no
catastrófico e histórico 7 a 1 imposto pela renovada Alemanha no Mineirão.
Renunciem, Senhores Marin e Del Nero
–sim, sabemos que o Senhor ainda não assumiu, mas renuncie à sua assunção.
O futebol do Brasil tem servido a
gente como os Senhores, mas não lhes pertence. Pertence aos brasileiros. É uma
representação simbólica e afetiva do povo brasileiro.
Mais até.
Por longevo, glorioso, está nos
capítulos principais da história do futebol no mundo, assim como estão a
Alemanha, a Itália, o Uruguai, a Argentina, a Espanha recente, a fundadora
Inglaterra…
Sim, sabemos pela sucessão de
escândalos mundo afora: o futebol, como qualquer negócio bilionário, pode ser
sujo. Mas basta! A entidade é, tem sido, demasiadamente…privada.
Basta de jogos às 10 da noite porque
a TV assim quer e manda.
Basta de uma TV, seja ela qual for,
impor tudo no futebol, de maneira arrogante, em nome dos seus gananciosos
interesses.
Basta de “comprar” três ou quatro
times de grande torcida e esmagar, abastardar os demais, torná-los “o resto”
no curto e médio prazos.
Basta de, país afora, futebol às
terças e sextas, quando não sábados à noite, um futebol medíocre, de segunda ou
terceira, apenas e tão somente para que se venda publicidade de quarta.
Basta de eleger gangsters para
dirigir federações e, sim, isso não se resume às federações.Os clubes, os times
devem se livrar da pilantragem… E a receita tem sido a mesma para tantas das
confederações.
Por todo o Brasil, nas cenas exibidas
nos telejornais, nas redes, nas fotos, crianças, a semente do futuro, choraram
com a degradante queda do futebol brasileiro.
Sim, Senhores, discursos e teses à
parte o futebol, queiram ou não, significa no Brasil e para o Brasil bem mais
do que o que se joga em campo. É um símbolo, é representação cultural, é
memória afetiva.
Por isso, nesse 8 de julho, tanta
gente chorou no Brasil.
Escondidos, ou tornando ódio a dor,
choraram mesmo os oportunistas, os que à falta de ideias e discurso refocilam
nos despojos e restos da derrota.
Que prevaleça o bom senso. E que o
Bom Senso dos jogadores faça, da mesma forma, a auto-crítica e dê início ao
recomeço.
Futebol se aprende, se vence, com
técnica, dedicação, tática, inteligência, aprendizado constante. Não com
auto-ajuda, psicologia de quinta, não rogando a cada lance a intervenção do
Divino.
Até porque, já deveriam ter lido o
que foi escrito e aprendido: não se usa o nome Dele em vão, muito menos em
público.
Que os rapazes tenham apreendido a
lição: se derrotas são inevitáveis, derrotas ensinam, ou devem ensinar.
Um futebol com a história do
futebol brasileiro, e com essa mancha agora eterna, não pode seguir mimado,
cheio de vontades. Profundamente infantilizado por adultos.
Um futebol de jovens e adultos jovens
cercados pela ação inescrupulosa e voraz de agentes, empresários, “grupos” e
quetais…
Os Senhores dos comandos que, entre
outros, faturam com o futebol, que se apropriaram progressivamente do futebol e
nele produzem suas receitas, são os responsáveis.
Ajam como tal. Façam como fez
Felipão. Assumam o fracasso. E saiam. Larguem o butim.
Não enrolem enquanto esperam a poeira
baixar, sempre com a ajuda e omissões obsequiosas da mídia amiga e sócia nesse
espetáculo degradante.
Renunciem. Os Senhores são os
responsáveis maiores não apenas pela mais humilhante derrota na história do
futebol brasileiro.
Os Senhores, e antecessores, são
responsáveis por muito mais. Por vitórias, certamente, mas elas não bastam para
esconder o que salta aos olhos.
Não escondem, não esconderão jamais
esse 8 de julho de 2014, o resumo dessa ópera que emporcalhou a longa e
vitoriosa história do futebol brasileiro.
Basta! Renunciem!