25/07/2017 17:05
Sempre
na derrota ou glória
Sabe quando eu descobri o que era ter
um ídolo? No momento em que, sem influência nenhuma, me encantei pelos Beatles.
Criada sempre em roda de samba, coisa que não nego jamais, a banda inglesa foi
a melhor exceção que abriu aos meus ouvidos e sou fã até hoje. Pelos meus sete
anos de idade, entrou o futebol na minha vida e eu queria explicar a
importância dele, mas aquela coisinha que muitos dizem ser clichê é fato: AMOR
não se explica.
Amor pelo Grêmio Esportivo Brasil então
é me pedir demais né?! Pois bem, mas voltando aos ídolos, vou falar dele:
ROGÉRIO ZIMMERMANN!
Imagens: DP/Leandro Lopes
Esta é pra ti, meu único ÍDOLO no
futebol.
Quando vieste comandar o meu clube em
2004, já era o teu nome que eu gritava na tela, já era tu quem eu defendia. Foi
por ti que com 14 anos ia muitas vezes escondida ao estádio, pois era perigoso,
mas ia. Lembro como se fosse hoje, teu primeiro jogo com vitória. Brasil
jogando fora de casa, na segunda divisão, contra o Ulbra e vencemos por
3x2. Dia 30 de janeiro, se não me engano. Fazia um calor horrível e tinha
aquele cheirinho de fumaça de churrasco no ar. Pensei e disse: “Esse ano
vai!”. E foi.
Já no primeiro semestre fomos campeões
do citadino na casa, do que era na época, nosso rival, hoje, é apenas um clube
que costuma entrar em férias precocemente, BRApel dos 9. Como esquecer? Tiago
Rodrigues, o nome da fera. Mais uma vez: festa no Salão de Festas. Ao som da
música da Ivete Sangalo um pouco adaptada:
"A minha sorte grande foi ter
nascido Xavante, minha paixão verdadeira, campeão de verdade, único na cidade,
pra ser feliz a vida inteira, a boca do lobo é salão de festa, da xavantada
sim, charanga tocando, cerveja rolando, ta bom demais pra mim, domingo na
cidade, caldeirão de verdade, baixada não é brincadeira, mais fiel do Brasil,
coração tá a mil, o Xavante levantou poeiraaaaaaaaaaa poeira, poeira.."
Essa era a hora de tirar a camisa e
rodar no ar! Que festa!! E foi esse clima de comemoração até 2006.
Tu nos colocou em nosso devido lugar:
ELITE DO FUTEBOL GAÚCHO, de onde não devemos sair jamais. Eu pensei comigo: um
cara louco que xingava na beira do campo e ia a loucura com os jogadores, será
que estou errada em admirá-lo tanto assim? NÃO. Defeito todo mundo tem no mundo
do futebol. Só que de burra eu não tenho é nada. Por que eu ouvi muito isso:
”Tu é fã e não vê as bobagens que ele faz e blábláblá”. Ser fã não é ser cega,
meus amores.
Vou confessar que apesar de recordar
aqui de todas as conquistas, está difícil escrever.
Que época boa! Mas chegou ao fim,
encerrou teu ciclo e tu se despediu. Fiquei triste (não da mesma forma que
estou agora, acho que é a idade), mas tu nos deixou bem. Saiu pela porta da
frente e deixou que outros fizessem o seu papel aqui no Brasil.
Imagem: Arquivo pessoal
E em 2012, quando eu vi no RBS notícias
a tua volta, eu enxerguei uma LUZ, juro! Senti uma esperança, meus olhos
brilharam e quem estava do meu lado viu e ouviu: "Eu não acredito que ele
vai voltar". VOLTOU, O HOMEM VOLTOU. Com aquela postura de comandante, de
quem sabia o que fazer e com toda sua experiência me fez voltar a sonhar com
novas possíveis conquistas. Já que de novo, nos pegou onde? Segundona Gaúcha,
mais conhecida como: Inferno.
Depois da tragédia em 2009, ano que
perdemos três guerreiros fora de campo e várias outras chances dentro dele, meu
Deus, que ano. Ano em que outro dos responsáveis por essa minha loucura pelo
Brasil me deixou também, meu Pai. Até 2012 foi aquilo. Sempre batendo na trave,
sempre no quase, sempre no "ano que vem, vai".
TU, ROGÉRIO chegou e acabou com essa
bobagem; tu mostrou onde o Brasil deveria estar; tu mostrou que nós poderíamos
sim sonhar alto e muito alto; tu me mostrou que eu poderia sonhar com a Série B
do Campeonato Brasileiro (isso vem depois) e em 2013 nós destruímos né? O CAMPEÃO
VOLTOU! Sim, voltamos para a elite do Futebol Gaúcho, e ficou a pergunta: “quem
mandou não segurar?”.
Justo no dia em que eu soube da tua
saída, tem aquelas recordações do Facebook e um vídeo feito por mim, do
gramado onde todos gritavam: É CAMPEÃO! É CAMPEÃO! Até porque não basta subir,
tem que sambar na cara no adversário e fazê-lo receber medalha no vestiário.
Enfim, teus feitos gloriosos lembro de
todos e vou parar de citá-los, porque o torcedor e tu sabem bem, mas queria
dizer que em cinco anos eu nunca fui tão feliz em relação ao Brasil. Óbvio que
a minha felicidade em ser Xavante já basta, não vivo de títulos e conquistas,
mas não vou ser hipócrita qual torcedor não quer ver seu time ganhar? Qual
torcedor não quer ver seu time entre os melhores? Qual torcedor não quer ver
seu time sair da segunda divisão do estadual e chegar à segunda divisão do
Campeonato Brasileiro? Me diz?
De todos os motivos que tenho pra te
admirar o que JAMAIS vou esquecer é a chegada de Brasília. Mas antes disso, em
um jogo em casa diante do Ituano, eu e uma amiga na arquibancada fizemos uma
promessa: Se subir para a série B tatuaríamos o autógrafo dos nossos ídolos.
Fui para Brasília, eu e uma cambada de
loucos! Só o empate nos daria o acesso, mas quem disse que ser Xavante é fácil?
Logo nos primeiros minutos levamos dois e claro, nervos a flor da pele e o
choro. Foi inevitável não ter os pensamentos: “Por que com a gente?”; “De
novo?” ou “Tudo é só com a gente?”. E eis que ele entra em cena: “UH, TERROR, O
NENA É MATADOR”. GOL.
Esse resultado levava a partida para os
pênaltis, e pergunta para qualquer torcedor se Brasil e penalidade máxima
combinam? Imagina o desespero. Eu não assisti. Isso mesmo, viajei de
busão e não vi os pênaltis. Assim como o meu patrão na época e duas grávidas e
o pessoal vinha nos avisar.
Quando ouvi aquele grito: “Estamos na
C”, sai correndo, sem rumo e te vi pendurado na tela e me grudei e só ouvia
teus gritos: “É PRA VOCÊS, FORAM VOCÊS QUE CONSEGUIRAM! VOCÊS SÃO…
"FOGO". Depois de quinhentos abraços, choro, não sabia se era verdade
ou mentira. Mandei um áudio para essa minha amiga: MARCAAAAAA QUE VAMOS
RISCARRRRRRRRRR, TAMO NA C!
Foto: Carlos Insaurriaga
Voltando para Pelotas minha mãe não
parava de ligar para saber se demoraríamos e eu invocada pra entender que
tanto, já demorei bem mais. Já estávamos com um pé em Pelotas. Logo que o
ônibus dobrou na Rua João Pessoa, entendi aquela insistência.
Notícia de jornal - foto de
arquivo pessoal
Você, Rogério e TODO o time nos
esperavam. TU nos fez sentir os responsáveis pelo acesso, uns guerreiros, e
fomos mesmo. Desci correndo do ônibus e, depois de dar o primeiro abraço na
mamãe, enlacei meus braços em volta do seu pescoço e te agradeci por tudo, te
falei tudo que estava engasgado. Lembrarei para sempre da recepção com
"sashipão e refri", uma festa. Tu, com toda educação, pediu licença,
pois tinham uma reunião e nós ficamos lá comemorando. Esse dia nunca vai me
sair da memória, O MEU ÍDOLO, VIROU MEU FÃ naquela tarde.
E depois de minha primeira tatuagem que
é o símbolo do Brasil e da segunda que é o Hino do clube, marquei minha pele
com teu autógrafo e não será apagado jamais!
Arquivo pessoal
Sabe o primeiro jogo contra o Fortaleza
em casa? Então, mais de meses eu não conseguia entrar no estádio, devido a um
problema de saúde. Em vários jogos fui até a frente e escutava um foguete e ia
embora correndo, com medo; entrava no estádio, time aquecendo e eu chorando de
medo e querendo minha cama. Tive aquela doença boba, que só gente rica e com
frescura tem, sabe? Depressão, seguida de outra.
Mas naquele dia eu disse que iria! Bati
pé, acordei cedo, não tomei nada de remédio, e disse: EU VOU, vou pelo Brasil,
por ti Rogério e por mim, EU VOU! EU FUI. Eu vi os 90 minutos e só eu sei como
foi difícil. Até o momento daquele gol, AQUELE GOOOOOL do Cleverson,
obrigada! Te ver na tela, abraçar meus amigos de arquibancada, sentir o
cheirinho do churrasquinho, dos tios ambulantes gritando “3 latão por 10”, me
acolheu! TAVA EM CASA, MINHA CASA, MEU MUNDO, MINHA VIDA!
Segundo jogo, sem comentários! Martini,
tu é o cara e tu sabe. Assisti entre amigos, que sufoco, e quando subiu? O que
fazer? O que pensar? CARAAAAAA A GENTE TÁ NA B, VOCÊS TÊM NOÇÃO????
Comemorações eternas, que dias
Guerreiros!
Rogério, tu realizou o sonho de uma
nação, tu realizou o sonho do nosso eterno camisa 7, o MILAR.
Inclusive quero falar sobre ele. Milar
sempre foi um dos melhores jogadores que eu já vi, não em termos táticos mas
por sua identificação com a torcida, dentro e fora dos gramados, morreu pelo
Brasil. Sou muito criticada por não tê-lo como ídolo. Poderia me desculpar?
Não, não vou fazer isso. Ídolo não se escolhe, sentimento não se escolhe.
Admiração que eu tive por ele EM VIDA, por que não adianta reconhecer depois
que morre né?! Continua. CAMISA 7 ETERNO, todas as conquistas, ele, Giovani e
Régis ainda fazem parte.
Para finalizar, eu sabia que o dia que
tu fosses embora do Brasil eu ficaria chateada. Mas eu fiquei sem chão,
Rogério! Nem imaginei que doeria tanto.
Durante a tua coletiva de
"despedida" eu tive vontade de me ajoelhar e pedir pra ti ficar. Era
um clima de velório, perdão pela palavra, mas tu levou um pedaço de mim. Claro
que também me deixou muitas coisas boas, que um dia vou lembrar com imensa
alegria mesmo que, por enquanto, eu só saiba lamentar, chorar e agradecer.
Foto da coletiva de despedida - Carlos
Queiroz
Como eu te disse naquele dia, desejo
que o teu futuro seja repleto de coisas boas, tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Tu é iluminado, estrategista e babaca por ter nos deixado. Não te
dei um Adeus, te disse um até logo. Te ver, abraçar e saber que tu ainda
pretende voltar me confortou. Está doendo, mas vai passar.
Professor, eu não vou apagar a tatuagem
como tu pediu. Sou teimosa, talvez por isso tu é meu ídolo, me identifiquei.
Ela não será apagada, o que tu fez não será apagado, as alegrias que tu me
proporcionou não serão apagadas, virei até uma celebridade, sai no jornal,
rádio, televisão.
Era/É/Será sempre uma honra falar o que
o ROGÉRIO ZIMMERMANN representou e representa na minha vida. Mais do que um
técnico, tu não faz ideia que vai além disso!
NUNCA SERÁ SÓ FUTEBOL, NUNCA!
Sucesso, professor. Tu mereces e ATÉ
LOGO, Rô!
Bruna Porto
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Show de bola Bruna Porto! Show de bola!