É possível que este tribunal raivoso nos vença.
Mas uma coisa há de ficar bem clara para "O País do Futebol": não nos
mixaremos para esses julgamentos infestados de interesses dúbios e perniciosos
que sempre prejudicam agremiações aguerridas e apaixonadas que lutam, mesmo em
desigualdade, para alcançar o topo e o convívio com os grandes.
Ainda em 1911, no nascedouro de nosso Clube,
enfrentamos a primeira grande polêmica quando optamos pelas cores Vermelho e
Preto. É possível um Brasil em Vermelho e Preto? Sim. E o G. E. Brasil há mais
de um século vem provando que ser Rubro Negro é ser lutador. Ter garra, paixão
e viver vinte e quatro horas esse amor desenfreado por um Clube que não foge do
enfrentamento é nossa principal característica. Aprendemos isso ainda criança.
Sem sequer andar com as próprias pernas. Ali, no colo materno, no abraço do
pai, no carinho do vô, recebemos esse suspiro maravilhoso que nos fez Xavantes.
Essa graça não tem volta e nos faz acreditar sempre.
Já em 1919, em pleno Porto Alegre, conquistamos
nossa primeira estrela e arrebatamos o inigualável título de Primeiro Campeão Gaúcho.
Isto marcou fundo e desde então a Capital do Rio Grande do Sul cerra fileira
com todos os interesses no combate aos clubes do Interior. Um verdadeiro dogma
que raramente é quebrado por uma ou outra briosa agremiação de terras pampeanas.
Depois veio 1985. Um inigualável Flamengo com
Zico, Zagalo e tantas outras estrelas de invulgar brilho no Campeonato Nacional
é vencido inapelavelmente sob o grito da Torcida Xavante. Mais uma vez os
incrédulos donos do futebol orquestram mil artimanhas para nos vencer e encarnam
Castor de Andrade como o novo ceifador de sonhos. Nunca a Libertadores de
América esteve tão próxima, mas nos tiraram a oportunidade sabe-se lá a que
preço. Como se isso não bastasse, vieram anos turvos e tendenciosamente
arbitrados.
Emocionante também foi 2004 onde uma vitória
surreal entrou para a História do Brasil. Um adversário desde sempre foi batido
em seu próprio estádio naquela decisão de campeonato citadino. Ah, campeonato
da cidade... Parece pouco, mas põe nisso os ingredientes de um grande clássico.
Sem dúvida nenhuma, o maior do Interior gaúcho onde, por si só, qualquer jogo é
disputado numa intensidade dezenas de vez maior do que os jogos do centro do
País. Como se não bastasse a vantagem de jogar em casa, os áureo-cerúleos tinham
os onze atletas em campo enquanto o Xavante dispunha de apenas nove jogadores
naquela partida. Os motivos das expulsões Rubro Negras pouco importa e talvez
tenham sido pela notória vontade de vencer mais e mais que levou Claudio Milar
(o maior artilheiro de uma competição gaúcha com 34 gols num único campeonato)
a ir mais cedo para o chuveiro (17 minutos do 1º tempo). Neuri, um zagueiro no
autêntico estilo gaúcho também carimbou as canelas do adversário e, nove
minutos após a saída de Milar, também foi esfriar a cabeça com uma boa ducha d’água.
Para mim, este jogo é um divisor de águas e tenho o Bra-Pel dos 9 contra 11
como a maior prova de superação do G. E. Brasil. Mesmo com dois jogadores a
menos e na casa do adversário, saímos ganhando. Um a zero aos trinta e um do
primeiro tempo. Aos 42 o Pelotas empatou dando os números do primeiro tempo.
Logo aos 3 minutos do segundo tempo o lobão fez 2X1. Eu, tomado de emoção,
suava na arquibancada e rezava para tudo quanto era santo. Achava que a
desgraça da derrota poderia ser acachapante principalmente pela perda do Eterno
Ídolo. Este segundo tempo foi o mais longo de minha vida e muitas vezes pensei
que não ia aguentar partindo de vez para o além. Lá em cima, de certo, todos os
santos pressionavam Deus que, rendendo-se às minhas preces, deu-nos a graça do
segundo gol do Brasil. O tempo regulamentar terminou no maior 2X2 que eu já vi.
A arquibancada Xavante festejava e tinha esse resultado como uma verdadeira
vitória. Eu ali, estranho comigo mesmo. Enxergando o Paraíso e, claro, temendo
a própria morte. A FiFA, a CBF ou a FGF, sei lá quem, tinha inventado um tal de
“Gol de Ouro”. Uma prorrogação diferente onde tanto poderíamos ter os dois tempos
suplementares jogados ou - Aja coração! – tudo acabaria em favor do time que
fizesse o primeiro (e único, claro) gol. Em ninguém fazendo o gol, a decisão se
consumaria nas tradicionais disputas por pênalts. E era aí que eu tinha
apostado as minhas fichas. E tome reza para garantir aquele 2X2 maluco. Olhando
quinhentas vezes para o Céu eu estava ali, incrédulo diante da resistência do
Brasil e da comoção que começava a tomar conta da Torcida Xavante. Num
verdadeiro orgasmo explodi aos doze minutos com o gol de Tiago Rodrigues para o
G. E. Brasil. É Campeão! É Campeão! É Campeão! Todo o mundo gritava e ainda
hoje rezo em agradecimento a Deus por esta verdadeira graça alcançada por este
Clube que sempre joga com destemor, garra e uma vontade muitas vezes invejada.
Já 2009 foi um ano de extrema tristeza e aquela
curva deixou marcas profundas na alma da Nação Xavante. Perder Milar, Régis e
Giovani é algo irrecuperável e por mais que o tempo passe jamais vamos esquecer
esta terrível tragédia. Apesar do apoio de um ou outro, sofrer o escarro de
adversários insensíveis e bestas fez-nos balançar muitas vezes.
Outro golpe traiçoeiro foi a decisão do STJD em
2012. Num ardil armado, o Santo André, a FPF e alguns políticos nos surrupiaram
a vaga da Série C do Campeonato Brasileiro. Passado o impacto inicial da torpe
decisão, vem-nos a consciência de que muitos querem nos derrubar e tomar o que
é nosso. Isso, ao contrário de nos abater, impulsiona-nos à luta.
Ainda sob os trancos e barrancos daquela queda da
C, eis que surge o Londrina F. C. a querer intimidar quem está acostumado a
grandes peleias. Este clube não perde por esperar porque o próprio estado dele
há de julga-lo e colocá-lo na vala dos desleais. O triste disso tudo é que,
mais uma vez, o STJD dá um mal exemplo a Nação e injustiça o G. E. Brasil de
duas maneiras. Uma aplicando pena a quem se defendeu honradamente, outra
deixando escapar ileso os verdadeiros culpados pelas brigas no campo
paranaense.
Ao mesmo tempo que tem aí um quê de interesses
outros, tem um doping que nos fará lutar muito mais. Embora sacados de alguns
guerreiros, aqueles que vierem em substituição honrará este Manto Sagrado em
busca de mais essa Taça. Está em jogo não apenas uma partida, uma decisão de
campeonato e sim a paixão de uma Torcida que não para de cantar. Tudo isso que
acontece não é em vão porque, como o aço, sairemos mais fortes e mostraremos
não só para o País, mas para o mundo todo que “Somos muito mais do que isto!”
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