De há muito que não faço
parte de Torcida Organizada e talvez muito pouco possa ajudar. Agora de uma
coisa eu sei. Torcer é uma coisa natural. Brota do fundo da alma e ninguém
precisa ensinar.
Hoje estão muito preocupados
com ensaios e OBRIGAR a quem está do lado a fazer igual. As “Torcidas
Organizadas” surgem por diversos motivos, mas falar em filosofia, para mim, já
é imaginar que a T. O. é maior do que o Clube.
O jogo é dinâmico. Numa falta
à beira da área do Brasil vou estar a cantar ou a vaiar o adversário? Tem bico
para fora do estádio que pode significar uma jogada de raça assim como me
trazer um desgosto pavoroso. É aí que está o verdadeiro sentido do Torcedor.
A organização é legal para
um mútuo apoio, para as excursões e para motivar outros torcedores, mas não
pode nos tornar uns marionetes. Olhem o que a tv está fazendo. Tempo
milimetrado e, agora, até aquela música de filme hollydiano. Desgraçadamente
organizado e cômodo, mas que surrupia as pessoa de irem aos estádios. Não vai
tardar a tornar-nos zumbis ávidos por emoções holográficas e jogos de
mentirinha.
Salvo um grande erro meu,
antigamente o PRN, a Toxa, a Camisa 12, a TOB e outras tantas T. O. lutavam
entre si, mas era para gritar mais alto, abafar o som uma da outra, disputando
até onde ficar na certeza de que assim o mundo todo saberia de que ali quem mandava
era a TORCIDA DO BRASIL.
No caso da “Paixão Rubro Negra”,
nos brigávamos quando alguém vinha com uma Bandeira com demasiado branco porque
o VERMELHO E PRETO era quem devia reinar sempre no Bento Freitas.
Não raramente alguém lançava
um grito diferente e já outro emendava outra palavra e o verso estava pronto.
No calor do jogo ganhava alma e em pouco tempo tornava-se um verdadeiro hino.
Coisa muito simples, mas que varava décadas.
Charanga, buzina e apitos
davam o tom, mas o grito era o carro chefe. O Meião era chamado apenas de “meio”,
mas dali transbordava para a Goleira do Placar e para a Goleira dos Fundos. O
Pavilhão tentava assistir passivamente, mas, não raramente, acabava contagiado num
colosso de arrepiar a alma.
Tudo simples, regado a muito
suor, cachaça, pipoca, amendoim, picolé e até vergamotas. A festa era de todos,
mas aqueles que quisessem só assistir ao jogo ficavam a lo largo lutando
intimamente entre unir-se a turba ou chegar limpinho em casa. Poucos ficavam
intactos e no final era aquela baderna legal ao som de algum tambor ou apenas
no gogó. Em suma, justificavam aquilo que um dirigente áureo-cerúleo
profetizou: “Eles são uns Xavantes!”
Torcida Xavante - abril de 2015
foto: Xavante Munhoso
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