Quem não tem? Eles
estão ali, pertinho ou longe, na espreita da hora certa para agir. Nem
precisamos nos preocupar com o relógio, com cobrança ou com lamúrias porque
eles chegam quando menos se espera. É através de uma carona, de um socorro, de
um abraço, da palavra ou simplesmente chegam, sem motivo algum segundo nossa
percepção. Estão ali num apoio irrestrito e muitas vezes inusitado. Acolhem,
guiam, protegem de maneira missionária e Divina conforme sua própria natureza.
Quando criança, eu
rezava muito para o meu Anjo da Guarda. Hoje cresci, fiquei cascudo, auto suficiente,
empedernido até e confesso que o esqueci. Mas quando a coisa apertou, vi o
quanto minha mãe estava certa porque meu Anjo da Guarda multiplicou-se e
apareceu na forma de várias pessoas. Humanas, de carne e osso como eu, mas com
uma sublime acolhida e me fez vencer uma agonia que parecia ter vindo para
travar meus planos.
Parente, médico, amigo
ou vizinho, muitas vezes é nosso Anjo da Guarda e nem percebemos. Alheios,
deixamos passara ao léu, perdendo a oportunidade de reconhecer a importância
daqueles que nos amparam sem nada cobrar.
Claro, além de meu Anjo
da Guarda, devo agradecer a minha família. Mesmo contrariados entenderam que
minha agonia maior nem era o joelho esbodegado, a carne sangrando ou o osso
bisbilhotando este mundo de seres sano, bacteriológicos ou até imaginários.
É. Sem vergonha que
sou, estava preocupado com o jogo do Brasil que ocorreria à noite contra o
líder do campeonato. O Novo Hamburgo vem em excelente campanha, sendo a grande
esperança do Interior para desbancar os times da Capital. Já o Rubro Negro vem
aos trancos e barranco flertando tanto com o G8 quanto com a famigerada
Segundona.
Justamente no melhor
ano do Clube em termos de entrada de recursos financeiros, o Time vem capenga,
titubeando, criando um novo fenômeno entre os Torcedores. Corneteiros e
conformistas disputam a preferência em faceboocks num desgaste ímpar e
perturbador.
É neste
contexto que meu Anjo da Guarda deu as caras. Sei lá se por compaixão, se por
meus méritos ou simplesmente por parceria a este louco, fanático e sem vergonha
de ser Xavante ele surgiu de tudo quanto foi canto. Carregou-me para a UPA,
anestesiou-me, suturou meu joelho, aplicou-me aquela injeção milagrosa, assou o
churrasco, bronqueou (em vão) para eu ficar em casa, levou-me ao Bento Freitas,
reservou um lugar especial e seguro, zelou por mim até o apito final e, após
tudo isto, levou-me de volta para casa para eu, enfim, relaxar e dar a perna o
devido repouso.
Do jogo, pouco a falar
porque o resultado abafou toda e qualquer comemoração. Partida trepidante com
resultado complicado e que transfere tudo para a última rodada. Um a um
indigesto diante de toda a expectativa, de toda a função, mas que adocica a
esperança de quem acredita até o fim. É Munhoso, teu Anjo da Guarda é forte,
mas não abusa tche.
Nenhum comentário:
Postar um comentário