Pois é!
Demorou, mas aconteceu.
Em emocionante partida,
o Xavante foi a Brasília e recuperou a vaga na Série C que lhe safaram num jogo
de interesses comandado pelo Santo André e a Federação Paulista de Futebol em
2011.
Jogando um futebol
organizado e eficiente, os comandados de Rogério Zimmermann literalmente
arrancaram o couro do Jacaré, de Luiz Estevão – o primeiro senador cassado da
república brasileira. Embora sendo apenas a segunda vez que o Xavante e o
Jacaré se confrontaram essa disputa tinha um gostinho de revanche diante das
declarações dadas pelos jogadores do Brasiliense de que iria reverter
facilmente o placar do Bento Freitas. De fácil a partida não teve nada, visto
que o jogo foi toma lá, dá cá e os dois goleiros se destacaram pelas defesas
que fizeram,
Depois da vitória por 2
X 1 no Bento Freitas, o Rubro Negro da Princesa do Sul confirmou a volta à
Série C com uma vitória de 4 X 3 nos pênalts.
A partida em si foi
nervosa e nem deu para curtir muito ante os sobressaltos de meu coração. A
equipe do Brasiliense ganhou o jogo no tempo normal pelos mesmos 2 X 1
acontecido na Baixada.
O diferencial do jogo
foi Eduardo Martini. Experiente, sangue frio e capacidade acima da média, que
chegou e botou banca de campeão na goleira Rubro Negra. Das cinco penalidades,
defendeu duas e uma terceira escapou por um tiquinho.
Mais de 600 Xavantes
foram até Brasília para torcer e testemunhar a conquista da Série C, que vem
somar ao Título de Campeão do Interior do Rio Grande do Sul de 2014, a
conquista da vaga para a Copa do Brasil de 2015 e, claro, a permanência na
Primeira Divisão do Campeonato Gaúcho do ano que vem. Diante de tudo isso fica
a certeza de que 2015 será um Ano de Ouro que curtiremos mês a mês de janeiro a
dezembro.
O adversário mais
temido por mim – a baixa umidade do ar e o calor da região – não teve grande
influência no escore da partida e ficou evidente o ótimo condicionamento físico
da Equipe preparada por João Beschorner.
Tão logo Rafael Forster
cobrou o pênalt consagrador, uma loucura tomou conta da Nação Xavante. No
estádio do Brasiliense – Boca do jacaré – a explosão foi algo nunca visto
naquelas bandas. Gritaria, choro, abraços, gente de joelho, pulando, cantando a
grande conquista. Também os atletas descarregaram o resto de suas energias no
encontro com os Torcedores que os saudavam como verdadeiros heróis. De
imediato, as Camisas que armaram os gigantes em campo pularam o alambrado como
Troféus aos bem-aventurados. Num fuzuê danado, pegaram essas Camisas como quem
pega a maior conquista de sua vida. Enfim, um ano inteiro foi absorvido numa
fração de segundo.
Na Princesa do Sul não
foi diferente. Tão logo a bola estufou as redes no petardo de Rafael Forster, toda
a cidade explodiu num grito só. “A Série C é nossa! A Série C é nossa!”
gritavam os Xavantes num delírio unificado do centro aos bairros. Uma multidão
de Rubro Negros imediatamente saiu às ruas para extravasar pela grande
conquista. Carros, foguetes, bandeiras, buzinas, tudo servia para anunciar o
grande vencedor e, mais uma vez, rumaram em direção à avenida Bento Gonçalves.
O Altar da Pátria foi tomado
pela multidão e de imediato a Bandeira Xavante tremulou triunfante numa
verdadeira oferenda aos Deuses do Futebol. Entre os cânticos, os nomes de
Cláudio Milar, Régis e Giovani retumbavam num desabafo emocionado da Torcida
que nunca esquece seus guerreiros.
Alheio a tudo isso, logo
ali, o eterno Salão de Festas assistia pasmo. Dava para sentir o choro a cada
cutucada de algum Rubro Negro mais atrevido. Segundo alguns, o próprio lobo não
resistiu e caiu na gandaia alegando que não era de ferro. Também pudera, a
festa foi até altas horas da madrugada num frenético e avassalador contágio.
Pois é! Não é que na SEGUNDA-FEIRA
a festa não acabou? Não! Foi a vez de festejar a volta dos Guerreiros de
Zimmermann. Novamente a Bento Gonçalves ficou lotada. Melhor, superlotada num
verdadeiro carnaval Vermelho e Preto.
Sem os sobressaltos do
jogo e com a bênção da classificação, novamente os Xavantes cantaram, choraram,
pularam como há muito tempo não se via na cidade de PELOTAS. O ônibus do G. E.
Brasil movia-se vagarosamente curtindo aquele momento triunfal. Centímetro a
centímetro percorreu o trajeto pré-estabelecido num cadenciado eterno que nunca
mais será esquecido pelos Torcedores que mais uma vez festejavam a Conquista da
Série C.
Já na rua Princesa
Isabel, o nervosismo era visível no rosto daqueles que optaram por abraçar a
Equipe vencedora no Estádio Bento Freitas. O movimento começou ainda pela manhã
com alguns Torcedores vindo espiar, pedir informações, se certificarem da hora
da chegada da Delegação Xavante.
A tarde mal tinha
começado e, de vez, os mais precavidos começaram a demarcar seu lugar nas
calçadas e rampa de acesso ao Estádio Bento Freitas. Como o sol ainda
castigava, perambulavam entre uma quadra e outra em busca de alguma sombra
confortadora. As horas foram passando, longa como esperança de Torcedor, mas
nervosa como fila de banco.
Às dezoito horas fui
feliz da vida, também participar desse momento histórico. Indeciso entre
aguardar na Baixada ou partir para a avenida como oitenta por cento da cidade.
As notícias corriam dizendo que o Brasil chegaria entre dezoito e trinta e
dezenove horas. Uns falavam que o Time viria pela Bento Gonçalves até a Barroso
e daí para a Princesa Isabel. Outros falavam que o trajeto era Bento Gonçalves,
Deodoro, Lobo da Costa, Barroso e Princesa Isabel. Baratinado e com medo de
errar o trajeto, optei por esperar no Caldeirão. Suava com uma mistura de calor
e frio. Nervoso como se ainda não estivesse acostumado às façanhas Rubro Negras.
A noite chegara
alvissareira e, as dez e tantas, o buzinasso anunciava a feliz chegada. Motos e
automóveis faziam às vezes de batedores motorizados num cortejo festivo. Logo
ali, tomado pela multidão de Fanáticos, vinha o ônibus do Brasil trazendo os
heróis do ano. Ainda centímetro a centímetro, desfilava mais garboso do que
caminhão de bombeiros. A Princesa Isabel, acostumada com o carnaval Xavante
punha todos os seus moradores na rua. Foguetes e luzes saudavam “O Campeão do
Bem-Querer”.
Um, dois, três, dezenas
de filmes a passar freneticamente em minha mente. Do Bra-Pel do “O Torino é
nosso! O Torino é nosso! O Torino é nosso!” em 1977 até os dias de hoje quantas
vitórias; quanta luta; e também quantas vezes deixamos escapar conquistas que
pareciam ser nossas. Uma imagem não me sai da cabeça a cada vez que o Brasil
enfrenta adversários em nível nacional. Trata-se de um cartaz que guardo como
um verdadeiro tesouro que diz: “CAMPEONATO NACIONAL: O BRASIL PRECISA ENTRAR
NESTA FESTA!”.
Tche! Sou rodado nessa
farra gostosa, mas cada vez quero mais e mais. Até quando, não sei, mas só o
meu coração para fazer eu parar.
Deixei de lado meus
quase 6.1 e mergulhei de vez na multidão Rubro Negra. Procurei registrar o
máximo possível a felicidade daquele momento. De quando em vez, uma pausa para
enxugar os olhos porque em se tratando de Torcida Xavante sou como criança que
chora à procura da mãe. Às vezes o ar falta; o coração embesta de querer partir;
as pernas bambeiam, mas não estou nem aí. O que vale é a festa, a comemoração,
a libertação dessa paixão desenfreada que domina não apenas a mim, mas esta
Nação que não cansa de cantar “Brasil! Eu te amo/Tu mora no meu coração”.
Forçando caminho como
praticamente todos aqueles Torcedores em transe, fui tomando a dianteira.
Estava há duas quadras do Templo Sagrado e queria ver e testemunhar aquela
colossal noite do Povo da arquibancada. É ali, no cimento, onde nossas vidas
têm sentido. É ali, onde estamos acostumados a viajar do inferno ao Céu em
apenas um lance, um gol. É ali, onde não raramente mandamos o juiz aos lugares
nada desejados. É ali onde pagamos nossos pegados quando a vitória não vem. Mas
acima de tudo, é ali o lugar do verdadeiro Torcedor.
Pisei na calçada do
Estádio em soluços. Mas, como dizia minha mãe: “Engole o choro guri!”, achei
forças para me controlar e entrei “no estádio mais humano do mundo”. Na verdade
não controlava muito bem meus passos porque quem determinava o ritmo e a direção
era a Massa. Fui parar em frente ao Pavilhão e mal conseguia me equilibrar para
não cair. Queria registrar cada um que estava ali. Vã ideia porque era muita
gente. Nas panorâmicas, procurava captar o máximo possível. Nisso vi o grande
Montanelli – fiel escudeiro do Departamento de Futebol. Em seguida o grande
estrategista, Rogério Zimmermann que com toda a liderança que tem, pedia para a
Torcida não invadir o gramado. Não nego que eu era um dos que pensara em pular
a tela como nos tempos de meus vinte/trinta anos. Emocionado vi a Nação Xavante
inteira obedecer ao Maestro da festa. Quem era eu para discordar?!?!?!
Num esforço
sobrenatural, comecei a caminhar em sentido contrário àquela avalanche Rubro
Negra. Queria mais. Queria fotografar o Estádio inteiro e tomei a direção da
arquibancada do Placar. Não tinha andado cinco metros e fui sugado pela
batucada da Xavabanda. Minha mãe que me perdoe, mas aí as lágrimas rolaram de
vez, Que sensação maravilhosa! Branco, preto, homem, mulher, velho ou criança
se sente no Paraíso ante uma batucada no Bento Freitas. Isso é histórico.
Parece que vem de pai para filho.
Lutei muito para sair
desse fervo e continuei a registrar tudo o que eu podia com minha Canon.
Costeando a arquibancada do Placar, disparava minha máquina à cata daqueles
rostos felizes. Famílias inteiras estavam ali reverenciando os Guerreiros de
Zimmermann. A julgar pelo público, a Torcida Xavante ainda vai reinar por
muitos e muitos anos. Centenas de pais carregavam seus filhos e filhas nos
ombros e isso duplicava os sorrisos. O fascínio das crianças só se igualava à
emoção dos pais que, num orgulho fenomenal apontavam para o gramado de tantas
glórias.
Nisso, a arquibancada
exultou o seu momento máximo e ecoou uma saudação capaz de ser ouvida a
quilômetros. Envolto àquele momento não sabia bem o que acontecera. Rompi
espaço até chegar à beira da tela e vi por entre cotovelos, ombros e braços que
o Time finalmente apresentava-se “A Maior e Mais Fiel”. Delírio absoluto. Todo
o mundo gritando, pulando, batendo palmas. Cada um à sua maneira dizia “É Série
C! É Série C! É Série C! É Série C!”.
Continuei minha missão.
Já de algum tempo que venho captando e registrando tudo que posso dessa
maravilhosa Torcida e desse abençoado Clube. Sei que muitas vezes sou indigno
de tal tarefa, mas teimosamente tento fazer o que posso e o que minha emoção
manda. Aliás, emoção é o que mais se tem em se tratando de G. E. Brasil.
Refeito, segui passo a
passo fotografando sem parar aquele momento feliz. Já na primeira curva, uma
tentação medonha me mandava subir para ver a festa dos jogadores e de seu
consagrado Treinador. Nisso, uma visão maravilhosa venceu e fez-me continuar.
No ângulo perfeito da curva eu via a arquibancada do Placar e a grande
arquibancada totalmente tomadas por fanáticos que bendiziam o Brasil. Uma
emoção indescritível mais uma vez toma conta de mim a ponto de sufocar e me
fazer tomar um tempo, um ar, uma paz.
Que alegria! A
tradicional turma da tela equilibrava-se apaixonadamente. Além da visão
privilegiada, tinham os flashes pipocando em sua direção. Certamente que seriam
destaque nos jornais e na internet. E assim eu ia. Um clic aqui, um clic ali
embriagado em minha própria paixão. De repente, o Meião. Santo Deus! O local
mais nobre desse Bento Colosso de Freitas. Ali a frase de Rui Carlos Hostermann
se faz verdade. Agora sim, não tem como segurar o choro. Quando penso que já vi
tudo, um treme-terra chama minha atenção. É a Garra Xavante. Num esforço danado
continuo até o fim fotografando num verdadeiro quadro a quadro. Não nego, perdi
o rumo e mal chego aos últimos torcedores. Comecei a subir as arquibancadas
afoito como criança. Nesse momento falo para um e outro: “Dá licença. Dá
licença”. Como se alguém pudesse me ouvir naquela noite apoteótica. Não me
interessava mais nada. Queria estar perto. Respirar a batida. Por um instante
ser confundido como um integrante da Xaranga de meus sonhos.
Praticamente não vi a
apresentação de nossos jogadores. Verdadeiros guerreiros que tão nobre guerra
venceram. Mas senti corpo-a-corpo, a emoção do Bento Freitas que
enlouquecidamente agradecia a façanha consumada em campos nacional.
Esta façanha não
começou agora e sim em 2013 com a conquista da famigerada Segundona. Tudo foi
pensado passo-a-passo por aquele que botou no bolso dezenas de outros
treinadores. Rogério Zimmermann é o nome da fera que, mais uma vez, mostrou que
tem capacidade não só para liderar seus atletas como a um Clube da garra e da
tradição do G. E. Brasil.
O campeonato ainda não
terminou, mas o objetivo maior já foi alcançado. Recuperamos algo que nos foi
tirado injusta e grosseiramente por ardilosos cartolas do futebol. Esta vitória
nada mais é do que o restabelecimento da Justiça.
Ainda faltam quatro partidas
e agora o foco é voltar à real para tentar coroar tudo isso com a Faixa de
Campeão. Isto acontecendo possivelmente alguns de nós não estará na festa
final. Tem coração que, de tanto amor pelo Brasil, pode querer partir na
plenitude de felicidade.
Enquanto podemos, nossa
gratidão a estes atletas que, doando-se de maneira inigualável, “tem o seu nome
gravado na História”: Alex Amado, Anderson, Billy, Brock, Cirilo, Chicão,
Cleiton, Dinei, Eder, Eder Machado, Edu Silva, Élton, Evaldo, Felipe Garcia,
Fernando Cardozo, Gustavo Papa, Gustavinho, Leandro Leite, Léo Dias, Luiz
Müller, Márcio Hahn, Márcio Johnata, Nena, Nunes, Rafael Forster, Raulen,
Ricardo Bierhals, Ricardo Schneider, Túlio Souza, Washington, Wender e Zotti.
Trinta e dois
guerreiros, verdadeiros hoplitas a serviço do G. E. Brasil e um saldo de
conquistas a encher de orgulho a Nação Xavante. Enfim, de alma lavada, podemos
pensar um futuro promissor para este Clube que arrasta uma multidão de
Torcedores que tudo fazem para estar junto seja na Baixada ou em qualquer canto
do País. Dois anos inesquecíveis que, de certo, servirá de trampolim para mais
e mais vitórias.
Foto: Carlos Insaurriaga
Zimmermann - Destaque 2013,
mas pode preparar o troféu de 2014 porque vai ser dele também.
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