10/03/2014 Blog Xavante
Durante muito tempo os projetos
de desenvolvimento de sistemas eram elaborados seguindo as metodologias e
práticas da engenharia. Até mesmo os profissionais eram chamados, e ainda o são
em muitos lugares, de engenheiros de sistemas.
Levava-se meses, por vezes mais de
ano, especificando e desenhando o projeto de um sistema. As equipes eram
enormes. Cada detalhe era escrito, cada fórmula era calculada, as relações
entre os dados eram minuciosamente definidas. Eram realizadas dezenas de
apresentações para validação dos desenhos das telas, das regras de integridade
e dos relatórios necessários. Não preciso dizer que as salas destas reuniões
eram um campo de guerra e era criado um volume enorme de papel com definições e
desenhos de difícil entendimento até mesmo por quem os havia concebido. Caos é
a definição que mais se aproxima.
Ainda lembro-me da minha primeira
aula de Análise de Sistemas quando o professor sentenciou que a análise de um
sistema deve ser dividida em duas partes: Análise Lógica e Análise Física. Em
um projeto de porte médio só a Análise Lógica tinha duração de um a três meses.
E esta era a parte mais fácil e rápida do projeto. Somente após todas estas
análises e especificações é que começava o período de codificação. E aí, o que
antes era certeza e verdade já não era bem assim. Senta e chora.
Obviamente durante todo o período de
projeto o mundo não parava. Como ainda hoje não para. A empresa crescia, o
mercado se modificava, as crises ocorriam, os funcionários eram substituídos,
as áreas e departamentos eram fundidos e a vida seguia seu curso. Na hora de
programar, os requisitos antes definidos já não faziam mais sentido. O que era
prioridade, já deixara de ser; os processos já eram outros; as informações
necessárias eram novas. Resumo da obra: o projeto ia pro buraco. Pode continuar
chorando.
Não era surpresa, embora alguns
fizessem cara de paisagem, que menos de 20% dos projetos de sistemas de
informação eram concluídos dentro do prazo e custos estimados. E a grande
maioria dos projetos que conseguiam ficar dentro do prazo e custo propostos,
tinham o seu escopo reduzido. O normal era estourar todos os limites e ainda
por cima entregar menos do que o solicitado. Vida dura.
Embora concebido há vários anos,
somente há bem pouco tempo se começou a utilizar de forma mais abrangente uma
nova abordagem para o desenvolvimento de sistemas, chamada SCRUM. O processo é
simples de explicar. Constitui-se equipes pequenas e multidisciplinares, e o
desenvolvimento e entrega é feito de forma cíclica e incremental. Em português:
não se define tudo para depois codificar. Vai se codificando a medida que as
definições vão sendo feitas, devagar e sempre. Os objetivos traçados são
menores. Em vez de um grande projeto com início, meio e fim previamente
estipulados, que só por acaso chegava ao fim, tem-se vários pequenos projetos,
um após o outro, aperfeiçoando e incrementando o produto já entregue e em
andamento. Desta forma, os problemas decorridos de alterações do escopo e tudo
mais que pudesse impactar o projeto, têm sua solução na hora. O resultado é um
sistema atual e focado no que é essencial para o momento.
Fiz toda esta explanação – prometo que
tentei simplificar – para traçar um comparativo com o atual momento do GEB. Em
anos anteriores, e ainda é o que ocorre na maioria dos clubes, montava-se
projetos com o objetivo de sermos campeões. Olhava-se lá para a frente. Toda a
proposta de trabalho era visando o título. Desde as contratações, até o
discurso para a Torcida. A medida que o campeonato ia transcorrendo, e a
verdade dos fatos prevalecendo, começava a etapa das desculpas, dos gastos não
previstos e das tentativas de mudança de curso. Em outras palavras: a qualidade
ia para as cucuias, o custo aumentava e o escopo ficava o que fosse possível
salvar. Só não se mexia no tempo, porque em um campeonato esse é imutável.
Frustração.
Desde a chegada do Rogério Zimmermann
a proposta de trabalho mudou. Montou-se um grupo coeso, com características
técnicas e pessoais definidas. Um grupo homogêneo para trabalhar no longo
prazo, mas com objetivos de curto prazo. Em vez de traçar um único e grande
objetivo lá na frente, foram definidos objetivos de curto prazo, sendo que um
novo objetivo é definido a partir do momento que o anterior for conquistado.
Isto possibilita a obtenção de várias e frequentes conquistas, o que mantém o
ego em alta. Se por acaso houver uma frustração em decorrência do objetivo não conquistado,
há outro na sequência para ser perseguido, mantendo o ânimo. Os ajustes
necessários também são mais simples de serem feitos, pois refletem o momento e
não um futuro incerto e até improvável.
Vamos ser campeões Gaúchos? Não sei.
Isto ainda nem foi pensado e nem é prioritário neste momento. O objetivo agora
é ganhar do Zequinha na próxima quarta-feira e com isto conquistar a vaga na
Série D do Campeonato Nacional. O depois é depois. Agora é pensar, planejar e
preparar a equipe para a próxima apresentação. Um passo de cada vez, ou como
diria a minha avó “É de grão em grão que a galinha enche o papo”. - Ivan Schuster
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