Grande jogo apesar
desse juiz que errou muito acima da média contra o Brasil. Mesmo diante dos
gols perdidos, sentia o gostinho da vitória a qualquer momento. Um espetáculo
onde há duas opções de felicidade: ver o Time em campo ou assistir a Torcida na
geral. Em alguns momentos senti saudade de meus vinte e poucos anos. Não canso
de falar em pertencimento, em sentir-se dono, em fazer parte do todo. Isto não
é um prêmio nem uma concessão, é uma obrigação de todo e qualquer Torcedor
Xavante. Daí o acerto da Diretoria que bateu pé na campanha de Sócios. Como
pode ainda hoje um número significativo de Rubro Negros não serem Sócios? E os
que não foram ao jogo? O verdadeiro futebol não é espetáculo, como a mídia
televisiva apregoa. Futebol é uma luta organizada onde a bola serve apenas para
alegrar a uns e entristecer a outros quando entra no gol. Quem não foi perdeu a
magia de Nena; a simplicidade do Foster; a suprema felicidade; a coroação de um
trabalho espetacular. Estou extremamente agradecido a este Time miraculoso que
tapou a boca de muita gente. Na real. ainda estou tremendo, emocionado, quase
chorando. Fiquei assim a partir do momento em que a Torcida começou a gritar
"Milar! Milar! Milar! Milar!". Daí a minha dúvida: o que é melhor,
este Time ou a Torcida? Estou quase na turma da "Velha Guarda" e
grandes vitórias ou grandes derrotas me põe de molho uns três ou quatro dias
para a adrenalina baixar. Mas é disso que eu gosto e por isso estou sempre lá,
na Baixada; a casa dos Xavantes.
Pois é!
O Brasil é Campeão do
Interior do Rio Grande do Sul. Um Estado apaixonado por futebol, mas que tem os
clubes interioranos massacrados por uma mídia grenalista, parcial e nefasta na
desigualdade de distribuição de imagens e informações. Sem meias palavras, a
RBS incorporou Grêmio e Internacional e tudo faz para mantê-los no topo da
informação. Esta política destruidora não começou agora e por isso muitos
clubes sucumbiram ao longo da história. Soma-se o mando e desmando de nossa
Federação Gaúcha de Futebol com o poder centrado na pessoa do presidente que
tudo pode e tudo faz. Não me refiro apenas ao atual mandatário porque os
anteriores também vestiam Porto Alegre descaradamente.
Daí fica difícil vencer
a dupla gre-nal em final de campeonatos e a diferença vergonhosa de títulos
Interior X Capital é descomunal. Das noventa e três decisões, Internacional de
Porto Alegre ganhou quarenta e duas vezes e o Grêmio Porto-Alegrense ficou com
trinta e seis. Só com a dupla gre-nal, o Gauchão ficou setenta e oito vezes.
Tudo bem que, historicamente, eles são mais poderosos economicamente, mas esta
conquista de recursos não seria justamente pela maior exposição na mídia?
Já no Interior, o
Guarany de Bagé tem a honra de ser o maior vencedor com seus dois títulos
conquistados (1920 e 1938). Da parte do G. E. Brasil ostenta a façanha de ser o
Primeiro Campeão Gaúcho (1919) quando golearam o Grêmio Porto-Alegrense em
plena Capital do Estado. Daí, segue um rosário de apenas um título também: Bagé
(1925), Americano (1928), Cruzeiro (1929), Pelotas (1930), São Paulo/RG (1933),
Farroupilha com o seu Campeão por Cem Anos (1935), Rio Grande (1936), Grêmio
Santanense (1937), Rio-Grandense/RG (1939), Renner (1954), Juventude (1998), e
finalmente o Caxias (2000).
Quatorze anos após a
conquista do último Título Gaúcho por um clube do Interior eis que nova
oportunidade surge. Mas é uma luta totalmente desigual tamanho é o poder de
Grêmio e Internacional. Realmente estes dois grandes clubes souberam canalizar
o prestígio que a exposição na mídia lhes deu ao longo da história e somaram em
suas fileiras de torcedores governadores, senadores e deputados que também agem
na hora em que interesses grenalísticos estão em jogo.
Em defesa da honra do
Interior está Brasil, Caxias, Cruzeiro, Juventude, Novo Hamburgo e Veranópolis.
Desses, apenas o Veranópolis ainda não conseguiu o seu título gaúcho e os
outros podem se igualar ao glorioso Guarany de Bagé com um Bi-Campeonato. Em
destaque ainda a situação do Cruzeiro que, para fugir da sombra de Grêmio e
Inter, mudou-se de mala e cuia para Cachoeirinha.
Os números e o noticiário
dão mostra de que não é fácil ganhar um campeonato enfrentando, além de
adversários em campo, toda uma mídia que impõe seus interesses em detrimento da
paridade de oportunidades. Mesmo assim o fascínio por este esporte nos dá
esperança. Esperança essa reforçada na briosa conquista do nosso Xavante que
mais uma vez é Campeão do Interior e como tal vai em busca de mais essa Taça.
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