“Na alegria e na tristeza; na saúde e
na doença; torcendo, vibrando e idolatrando-te por todos os tempos de minha
vida”. Eis o juramento que fiz naquele instante em que o Manto Sagrado roçou
meu rosto naquele longínquo tempo de minha infância.
De lá para cá, vi Santos de Pelé;
Flamengo de Zico; Internacional de Figueroa; Grêmio de Everaldo, mas nenhum,
absolutamente nenhum desses clubes vencedores tocou meu coração com a força da
Garra Xavante.
Engatinhei passo a passo, até ser o
que sou passando por todos os estágios permitidos àqueles que se encantam com
um clube de futebol. Ainda mandinho, entrava de graça no estádio com a
faceirice de quem ganha um presente. Aos doze, treze anos, esperava o domingo
chegar para pular o velho muro da “goleira de fundos”. Era uma festa arriscada
porque muitas vezes a bronca dos que cuidavam o setor era assinada com puxões
de orelha e safanões que torciam até a alma ante a barreira cruel.
Vez que outra, apelava para o “Posso
entrar com o senhor, tio?” e, todo encolhido, ia faceiro entrando no estádio
com um ilustre desconhecido. Nem sempre a estratégia dava certa e tentava
enquanto a paciência do porteiro permitia. Para ser sincero, algumas vezes fui
corrido até uma ou duas quadras do Bento Freitas tal a insistência e o atrevimento
de minha parte.
Pouco sabia da vida, mas minha paixão
pelo G. E. Brasil já falava mais alto em minhas escolhas. Caçar, pescar, ir ao
cinema também era de grande gosto desde que, claro, não tivesse jogo do meu
Xavante querido.
Num belo domingo de sol, o desatino
maior: desafiado pelos companheiros de arquibancada furtiva, escalei o paredão
da Juscelino Kubitschek. Foi como cortar o cordão umbilical. Até hoje agradeço
a Deus por aquele anjo que pegou meu braço no instante derradeiro impedindo
minha queda no velho lamaçal. Com o peito rasgado e ensanguentado por raspar no
“cimento penteado” decidi que chegara a hora de pagar ingresso.
Definitivamente o cinema foi ficando
para trás e todo o trocado que ganhava como aprendiz de linotipista era para
comprar o meu ingresso. Sentia-me poderoso e as bandeiras começavam a tremular
cada vez mais perto de mim. Anos setenta com o seu “Milagre Econômico” e
finalmente meu primeiro emprego. Na velocidade da juventude logo logo era 1974
e desde então minha coleção de “Carteirinha de Sócio” só aumenta.
Em 1977 um novo salto na evolução
desse fanático consciente. Surge a Torcida Organizada “Paixão Rubro Negra”, o
PRN, e daí nem sei mais o que sou eu ou que é o Torcedor. Tudo é festa.
Foguetes, papel picado, excursões e as bandeiras que marcaram uma época de
encantos e desbravamento Rio Grande do Sul afora.
Até aí, sou eu. Em grupo, mas sou eu.
De repente, um batuque, uma cadência que lembrava muito o “Aguenta, Se Puder!”.
1979 trás a magistral batida da Garra Xavante. Música, energia e reboliço
mostram-me a essência da Torcida do Brasil. Mais uma vez a metamorfose acontece
e transformo-me num apologista desses abnegados que largam tudo para viver uma
paixão. Energia descomunal ritmada no samba, na alegria, na esperança, no acreditar
que podemos vencer custe o que custar. Passo a observar mais e, entre um
rabisco e outro, vou pouco a pouco contando esta História. Ainda sou nada, eu
sei. Mas sou energizado por um encanto. O encanto da Garra Xavante. Não tem
igual. E por isso mesmo, basta-me. Na alegria e na tristeza; na saúde e na
doença; torcendo, vibrando e idolatrando-te por todos os tempos de minha vida.
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