“... Hum... Baaaáh! É brabo
tchê! Éééééh. Porra! Negão de camisa vermelha no meio da Torcida do Brasil foi
ele. Poh! Não vai achar nunca. Hoje já tá mais difícil hém cara. Desculpa, não
é, não é menos prezar os negros não, de forma alguma cara, mas hoje a Torcida
do Brasil tá muito elitizada cara. Tchê! A gente não vê mais aquele negro; o
negro raiz; aquele negro da vila. Não se vê mais cara. Vou te dar um exemplo. Ooh
Schuank mesmo aqui ooh Luciano e Fontoura e o Ademar que tá aí, nos escutando.
Oooh Schuank uma vez nos levou... Em Caxias oooh Fontoura, tinha um negrão que
trabalhava aqui na estiva aqui no porto e ele ia assim óh, ia a ferro. Sem
dinheiro, sem nada, mas tomava um baita dum trago. Aí nós viemos... e agora
Schuank? Como é que vamos fazer com esse homem? Eu eu eu tenho, eu consigo o
dinheiro para a entrada e o Schuank, não eu pago o almoço. Aí nos fomos, cara. Nós
fomos ao restaurante e botamos ele na cabeceira. Ele tinha tomado tanta cerveja
com nós, bebida, cachaça. Cara, e aí o Schuank serviu uma sopa de capelete pro
cara, tchê. Quando eu vejo, poh, são as coisas que digo: tum! E vejo aquilo
líquido saltar. Eu olho poh o negãozinho me deu com o rosto dentro do prato da
cumbuca de sopa lá e não conseguia se levantar. Ia se afogar na sopa. Tchê!
Esses caras aí óh; esses caras sumiram. Sumiram. Sumiram no mercado. Sumiram da
Torcida do Brasil, cara. Infelizmente. É esse Torcedor, é esse tipo de
Torcedor, aquele. O mais humilde, o mais pobre, o mais necessitado. Aquele
Torcedor laaaaá do meio da vila. É esse aí que nós temos que resgatar. E eu não
me importo cara, de pagar a minha mensalidade. Pagar setenta pila que seja, ou
cem pila que se pague e que eles paguem dez pilas por jogo. Eu não me importo
cara. Eu quero ver eles de volta ao Estádio. E não quero que eles fiquem
desprivilegiados lá prá trás da goleira. Eu quero que eles tenham acesso ao
Estádio. Porque foram ELES que fizeram o Brasil ser o Brasil que é hoje.”
Isto é parte de uma roda de
conversa on-line onde João Damasceno nos dá esta demonstração de amor à Torcida
Xavante. Aquela, pé no chão, troco suado, mas de amor incondicional ao G. E.
Brasil. Gente que muitas vezes deixa de comer só para estar presente nas
Arquibancadas do Bento Freitas.
Resolvi transcrever esta
manifestação com a intenção de tocar alguns corações que não enxergam a aflição
daqueles que foram alijados dos campos de futebol e em especial do Caldeirão
Xavante.
Ah! E não me venham com
argumentações do tipo o "futebol está caro" porque é público e notório que as
rendas de Bilheteria vêm gradativamente sendo substituídas por patrocínios,
verbas de federações, da CBF e de TVs.
O dinheiro pode muito bem
ser compensado por ações de marketing e boa gestão, mas o calor, a vibração e a
raça de uma Torcida não.
Pensem nisto e passem a
clamar por ações que tragam de volta ao nosso Bento Freitas aqueles que, tijolo
a tijolo, grito a grito, construíram “A Maior e Mais Fiel Torcida do Interior”.
foto: Vitor Hugo Lautenschlager
João Damasceno
foto: Xavante Munhoso
foto: Xavante Munhoso
foto: Dalnei Oliveira - Diário Popular
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