domingo, 8 de setembro de 2019

Parabéns G. E. Brasil!


A tarde deste sete de setembro foi cinzenta na Princesa do Sul, mas a grande Nação Xavante relembrou dias de festas. É aniversário do G. E. Brasil. E não é pouca coisa. São cento e oito anos de uma luta magistral. Vitórias e derrotas são como fogo em ferro a solidificar um sonho acontecido em sete de setembro de mil novecentos e onze.
Quando Breno Corrêa da Silva e Salustiano Brito, num terreno próximo ao centro de Pelotas, decidiram fundar um novo clube de futebol não imaginavam a grandeza que tal agremiação viria a ter.
Inúmeras são as façanhas que o Brasil vermelho e preto já realizou, mas talvez a primeira tenha sido justamente adotar o rubro negro como a cor de seu Manto. Verde e amarelo seria o natural para um clube que queira homenagear a Pátria brasileira, mas a ousadia de um fanático por um clube carnavalesco só confirma nossa capacidade de contrariar o status quo. E foi isto. Um torcedor do Clube Diamantinos, de cores vermelho e preto, prontificou-se a doar um terno de camisetas ao clube recém fundado desde que as cores fossem igual a de seu clube. Surgia então o rubro negro pelotense onde sangue e raça casam como a harmonia de um samba.
Os primeiros anos do G. E. Brasil não foi fácil porque já havia outros clubes na cidade e em melhores condições. Mas isto durou pouco e em sete de setembro de mil novecentos e dezessete a primeira grande conquista chegou. Foi o Campeão da Cidade abrindo caminho para um tri-campeonato que mudaria totalmente a hegemonia do futebol pelotense.
Na sequência das conquistas municipais chegou a hora do resto do Rio Grande do Sul conhecer a força do time que surgira da dissidência entre cervejeiros. O futebol organizava-se cada vez mais e agora os gaúchos tinham uma Federação para congregar todos os clubes praticantes do futebol. Após eliminar os adversários da região Pelotas/Bagé, o G. E. Brasil foi enfrentar o Grêmio de Porto Alegre vencedor na zona Porto Alegre/São Leopoldo. E num sonoro 5X1 tornou-se o primeiro Campeão Gaúcho no dia nove de novembro de mil novecentos e dezenove.
Esta conquista rendeu fama nacional e já em mil novecentos e vinte, o consagrado Clube do Povo participou daquela que talvez seja a primeira competição entre clubes de futebol a nível nacional. A Confederação Brasileira de Desportos reuniu o G. E. Brasil – Campeão Gaúcho, o C. A. Paulistano – Campeão Paulista e o Fluminense F. C. – Campeão Carioca em um torneio no Rio de Janeiro. O desafio foi grande, mas em viagem de navio a vapor o rubro negro chegou à antiga Capital brasileira demonstrando uma surreal capacidade para enfrentar grandes desafios.
Claro que as conquistas do Brasil não excluem a tenaz luta de adversários locais por vitórias e um em especial se destacou consagrando as disputas entre ambos no maior clássico do interior gaúcho. Daí, Brasil X Pelotas repetiu-se ano a ano engrandecendo a história de um e de outro. Há inúmeros Bra-Péis dignos de destaque, mas aquele jogo de mil novecentos e quarenta e seis foi épico. A partida estava próxima do final do primeiro tempo e o áureo-cerúleo vencia pelo placar de 3X1 jogando em seu estádio pelo Campeonato da Cidade. O juiz expulsou o zagueiro Chico Fuleiro deixando o rubro-negro com dez atletas em campo. Teté, o treinador do Brasil, inconformado ameaçou retirar o Time de campo, mas a Torcida insistia na permanência e incentivava ainda mais. Após o tumulto a partida recomeçou e foi até o final do primeiro tempo. Imbuídos de tamanha determinação e garra, os rubro-negros voltaram para o segundo tempo e viraram o jogo para um histórico 5X3 a favor do Brasil. Ao som do apito final, a Torcida do Brasil não aguentou e invadiu o gramado levando a tela por diante. Com tal afronta e triste pela derrota, um diretor do E. C. Pelotas bradou: “Eles foram uns bárbaros. Foi a Invasão dos Xavantes”, em alusão ao filme em cartaz na cidade de Pelotas. O desabafo era pejorativo, já se vê, mas o Torcedor rubro-negro, irreverente como ele só, não deu importância à natureza pejorativa da expressão, adotando a simpática e querida figura do índio xavante como símbolo do G. E. Brasil.
Seguindo seu instinto, a saga Xavante lança-se em novo desafio numa excursão sem precedentes para clubes do Rio Grande do Sul e a “Viagem pelas Américas” em mil novecentos e cinquenta e seis marca uma era. Num período de cento e quatro dias, jogam vinte e oito partidas. Destas, ganham dezesseis, empatam seis e perdem apenas seis. O time rubro-negro fez setenta e cinco gols e sofreu cinquenta. Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Honduras e El Salvador foram países visitados numa verdadeira Copa América à revelia.
Nestes cento e oito anos do G. E. Brasil, poucos foram sem sal e a década de setenta é bem clara nisto. Depois de um licenciamento em mil novecentos e setenta e quatro, o Xavante partiu decididamente para as competições a nível nacional. Anos de chumbo, ditadura precisando recuperar a simpatia do povo, o governo aposta no futebol. Ainda sob a simpática sigla CBD o Campeonato Nacional abre as portas para clubes fora do eixo Rio-São Paulo e outros aquinhoados pela sorte. A FGF louca para indicar o G. E. Brasil. Mas é claro que o co-irmão não deixaria barato mais esta briga. Daí surge o Seletivo-77 que daria mais uma vaga gaúcha no Campeonato Nacional de mil novecentos e setenta e oito. Foi uma festa só. A cidade em polvorosa. A princípio dois Bra-Péis definiriam o vencedor numa melhor de quatro pontos. Brasil 0X1 Pelotas, no Bento Freitas; Pelotas 0X1 Brasil na Boca do Lobo mais uma vez consagrando a grande rivalidade entre Xavantes e áureo-cerúleos. O tira-teima foi no Estádio Bento Fretas e até hoje eu ainda escuto “O Torino é nosso! O Torino é nosso! O Torino é nosso!” que consagrou a vitória do G. E. Brasil naquele derradeiro pênalt cobrado pelo ex-jogador Xavante para fora. A vitória rubro-negra foi por 1X0 e o gol marcado por Tadeu Silva passou batido diante da fatalidade que favoreceu o Clube do Povo.
E o Bra-Pel de número 341? Aquele dos 9X11 em dois mil e quatro quando o Brasil foi novamente Campeão na Boca do Lobo. Com dois jogadores a menos desde o primeiro tempo acredito ser aquela a vitória mais difícil do Brasil dentro de campo. Cláudio Milar foi expulso logo aos dezessete minutos e Neuri tomou o rumo do chuveiro logo a seguir aos vinte e seis dando um ar de terror e goleada contra o Time do Bento Freitas. Mesmo com dois jogadores a menos o Brasil abriu o placar com Careca fazendo um a zero aos trinta e um minutos de jogo. Aos quarenta e dois, Serjão empata para o Pelotas. Aos três minutos do segundo tempo Giovani faz dois a um para o áureo-cerúleo e aos quarenta minutos Joel empata para o Brasil explodindo de vez a Torcida Xavante. Algo inacreditável acontecia naquela noite e meu coração deu sinal de partida para a eternidade. Veio a prorrogação. A regra era clara. O “Gol de Ouro” consagraria o Campeão da Cidade. E ele foi de Tiago Rodrigues. “Garra Xavante vence o Torneio da Paz” estampava o jornal no outro dia enquanto muitos rubro-negros se recuperavam diante de tamanha emoção.
Daí em diante vem a era Rogério Zimmermann; Série D, Série C e Série B por quatro anos consecutivos do Campeonato Brasileiro, mas isto é recente e acredito que todos sabem muito bem que o G. E. Brasil fincou sua Bandeira nos campeonatos nacionais e deles não vai arredar pé.
Já é oito de setembro deste glorioso dois mil e dezenove e eu estou indo festejar estas e tantas outras conquistas do G. E. Brasil. “O Clube do Povo”, “Os Negrinhos da Estação”, o “Xavante”, o “Rubro Negro”, ou como os gentios falam, o “Brasil de Pelotas” é na verdade a mais pura realização do futebol da Princesa do Sul.
Dá-lhe Brasil!
Avante com todo o esquadrão!




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