A tarde deste sete de
setembro foi cinzenta na Princesa do Sul, mas a grande Nação Xavante relembrou
dias de festas. É aniversário do G. E. Brasil. E não é pouca coisa. São cento e
oito anos de uma luta magistral. Vitórias e derrotas são como fogo em ferro a
solidificar um sonho acontecido em sete de setembro de mil novecentos e onze.
Quando Breno Corrêa da Silva
e Salustiano Brito, num terreno próximo ao centro de Pelotas, decidiram fundar
um novo clube de futebol não imaginavam a grandeza que tal agremiação viria a
ter.
Inúmeras são as façanhas que
o Brasil vermelho e preto já realizou, mas talvez a primeira tenha sido
justamente adotar o rubro negro como a cor de seu Manto. Verde e amarelo seria
o natural para um clube que queira homenagear a Pátria brasileira, mas a
ousadia de um fanático por um clube carnavalesco só confirma nossa capacidade
de contrariar o status quo. E foi isto. Um torcedor do Clube Diamantinos, de
cores vermelho e preto, prontificou-se a doar um terno de camisetas ao clube
recém fundado desde que as cores fossem igual a de seu clube. Surgia então o
rubro negro pelotense onde sangue e raça casam como a harmonia de um samba.
Os primeiros anos do G. E.
Brasil não foi fácil porque já havia outros clubes na cidade e em melhores
condições. Mas isto durou pouco e em sete de setembro de mil novecentos e
dezessete a primeira grande conquista chegou. Foi o Campeão da Cidade abrindo
caminho para um tri-campeonato que mudaria totalmente a hegemonia do futebol
pelotense.
Na sequência das conquistas
municipais chegou a hora do resto do Rio Grande do Sul conhecer a força do time
que surgira da dissidência entre cervejeiros. O futebol organizava-se cada vez
mais e agora os gaúchos tinham uma Federação para congregar todos os clubes
praticantes do futebol. Após eliminar os adversários da região Pelotas/Bagé, o
G. E. Brasil foi enfrentar o Grêmio de Porto Alegre vencedor na zona Porto
Alegre/São Leopoldo. E num sonoro 5X1 tornou-se o primeiro Campeão Gaúcho no
dia nove de novembro de mil novecentos e dezenove.
Esta conquista rendeu fama
nacional e já em mil novecentos e vinte, o consagrado Clube do Povo participou
daquela que talvez seja a primeira competição entre clubes de futebol a nível
nacional. A Confederação Brasileira de Desportos reuniu o G. E. Brasil –
Campeão Gaúcho, o C. A. Paulistano – Campeão Paulista e o Fluminense F. C. –
Campeão Carioca em um torneio no Rio de Janeiro. O desafio foi grande, mas em
viagem de navio a vapor o rubro negro chegou à antiga Capital brasileira
demonstrando uma surreal capacidade para enfrentar grandes desafios.
Claro que as conquistas do
Brasil não excluem a tenaz luta de adversários locais por vitórias e um em
especial se destacou consagrando as disputas entre ambos no maior clássico do
interior gaúcho. Daí, Brasil X Pelotas repetiu-se ano a ano engrandecendo a
história de um e de outro. Há inúmeros Bra-Péis dignos de destaque, mas aquele
jogo de mil novecentos e quarenta e seis foi épico. A partida estava próxima do
final do primeiro tempo e o áureo-cerúleo vencia pelo placar de 3X1 jogando em
seu estádio pelo Campeonato da Cidade. O juiz expulsou o zagueiro Chico Fuleiro
deixando o rubro-negro com dez atletas em campo. Teté, o treinador do Brasil,
inconformado ameaçou retirar o Time de campo, mas a Torcida insistia na
permanência e incentivava ainda mais. Após o tumulto a partida recomeçou e foi
até o final do primeiro tempo. Imbuídos de tamanha determinação e garra, os
rubro-negros voltaram para o segundo tempo e viraram o jogo para um histórico
5X3 a favor do Brasil. Ao som do apito final, a Torcida do Brasil não aguentou
e invadiu o gramado levando a tela por diante. Com tal afronta e triste pela
derrota, um diretor do E. C. Pelotas bradou: “Eles foram uns bárbaros. Foi a
Invasão dos Xavantes”, em alusão ao filme em cartaz na cidade de Pelotas. O
desabafo era pejorativo, já se vê, mas o Torcedor rubro-negro, irreverente como
ele só, não deu importância à natureza pejorativa da expressão, adotando a
simpática e querida figura do índio xavante como símbolo do G. E. Brasil.
Seguindo seu instinto, a
saga Xavante lança-se em novo desafio numa excursão sem precedentes para clubes
do Rio Grande do Sul e a “Viagem pelas Américas” em mil novecentos e cinquenta
e seis marca uma era. Num período de cento e quatro dias, jogam vinte e oito
partidas. Destas, ganham dezesseis, empatam seis e perdem apenas seis. O time
rubro-negro fez setenta e cinco gols e sofreu cinquenta. Paraguai, Bolívia,
Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Honduras e El Salvador foram
países visitados numa verdadeira Copa América à revelia.
Nestes cento e oito anos do G.
E. Brasil, poucos foram sem sal e a década de setenta é bem clara nisto. Depois
de um licenciamento em mil novecentos e setenta e quatro, o Xavante partiu
decididamente para as competições a nível nacional. Anos de chumbo, ditadura
precisando recuperar a simpatia do povo, o governo aposta no futebol. Ainda sob
a simpática sigla CBD o Campeonato Nacional abre as portas para clubes fora do
eixo Rio-São Paulo e outros aquinhoados pela sorte. A FGF louca para indicar o
G. E. Brasil. Mas é claro que o co-irmão não deixaria barato mais esta briga.
Daí surge o Seletivo-77 que daria mais uma vaga gaúcha no Campeonato Nacional
de mil novecentos e setenta e oito. Foi uma festa só. A cidade em polvorosa. A
princípio dois Bra-Péis definiriam o vencedor numa melhor de quatro pontos.
Brasil 0X1 Pelotas, no Bento Freitas; Pelotas 0X1 Brasil na Boca do Lobo mais
uma vez consagrando a grande rivalidade entre Xavantes e áureo-cerúleos. O
tira-teima foi no Estádio Bento Fretas e até hoje eu ainda escuto “O Torino é
nosso! O Torino é nosso! O Torino é nosso!” que consagrou a vitória do G. E.
Brasil naquele derradeiro pênalt cobrado pelo ex-jogador Xavante para fora. A
vitória rubro-negra foi por 1X0 e o gol marcado por Tadeu Silva passou batido
diante da fatalidade que favoreceu o Clube do Povo.
E o Bra-Pel de número 341?
Aquele dos 9X11 em dois mil e quatro quando o Brasil foi novamente Campeão na
Boca do Lobo. Com dois jogadores a menos desde o primeiro tempo acredito ser
aquela a vitória mais difícil do Brasil dentro de campo. Cláudio Milar foi
expulso logo aos dezessete minutos e Neuri tomou o rumo do chuveiro logo a
seguir aos vinte e seis dando um ar de terror e goleada contra o Time do Bento
Freitas. Mesmo com dois jogadores a menos o Brasil abriu o placar com Careca
fazendo um a zero aos trinta e um minutos de jogo. Aos quarenta e dois, Serjão
empata para o Pelotas. Aos três minutos do segundo tempo Giovani faz dois a um
para o áureo-cerúleo e aos quarenta minutos Joel empata para o Brasil
explodindo de vez a Torcida Xavante. Algo inacreditável acontecia naquela noite
e meu coração deu sinal de partida para a eternidade. Veio a prorrogação. A
regra era clara. O “Gol de Ouro” consagraria o Campeão da Cidade. E ele foi de
Tiago Rodrigues. “Garra Xavante vence o Torneio da Paz” estampava o jornal no
outro dia enquanto muitos rubro-negros se recuperavam diante de tamanha emoção.
Daí em diante vem a era
Rogério Zimmermann; Série D, Série C e Série B por quatro anos consecutivos do
Campeonato Brasileiro, mas isto é recente e acredito que todos sabem muito bem
que o G. E. Brasil fincou sua Bandeira nos campeonatos nacionais e deles não vai
arredar pé.
Já é oito de setembro deste
glorioso dois mil e dezenove e eu estou indo festejar estas e tantas outras
conquistas do G. E. Brasil. “O Clube do Povo”, “Os Negrinhos da Estação”, o
“Xavante”, o “Rubro Negro”, ou como os gentios falam, o “Brasil de Pelotas” é
na verdade a mais pura realização do futebol da Princesa do Sul.
Dá-lhe Brasil!
Avante com todo o esquadrão!
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