Ao dar os primeiros passos
em direção às novas terras, os primatas sabiam que havia algo a descobrir além
das cavernas.
Das armas de osso e pedra
lascada à descoberta da roda passaram-se séculos. Um grande avanço, mas queriam
mais. Já não andavam de quatro e roupas, carros, aviões e celulares só
instigava a necessidade do prazer pelo prazer.
Entre uma guerra e outra o
esporte transformou-se num semideus a comandar as emoções liberando ordinariamente
o que chamam de adrenalina.
Já na China antiga (três mil
anos antes de Cristo) os militares chineses praticavam um jogo que na verdade
era um treino militar. Para desestressar formavam equipes para chutar a cabeça
do inimigo o que na verdade só aumentava a gana de acabar com todo e qualquer
oponente.
Tempos depois o Japão
inventou algo mais politicamente correto introduzindo uma bola feita com fibras
de bambu. Num campo de duzentos metros quadrados, dezesseis atletas formavam
dois times de oito para disputarem as partidas. As equipes eram formadas por
integrantes da corte do imperador e talvez por isto entre as regras a proibição
do contato físico fosse uma das principais.
Daí a bola foi rolando mundo
afora e na Grécia a bola já era feita com uma bexiga de boi. Mas decerto não
era qualquer um que se atreveria a jogar porque esta era cheia de areia ou
terra.
Na Itália Medieval o futebol
surgiu com o nome de “gioco del cálcio” praticado com tanta violência, barulho
e desorganização que o rei Eduardo II teve que decretar uma lei proibindo a sua
prática. Mas o jogo não terminou porque os integrantes da nobreza criaram uma
nova versão com regras que não permitiam a violência onde doze juízes deveriam
fazer cumprir as regras do jogo.
E assim o que hoje chamamos
de futebol atravessou a idade média com histórias sangrentas devido a
verdadeira carnificina entre os praticantes do esporte avassalador.
Lá pelo século XVII o “gioco
del cálcio” chegou à Inglaterra e daí em diante a história do esporte bretão é
bem mais conhecida. Ganhou regras diferentes, organização e sistematização. A
bola de couro passou a ser enchida com ar.
Praticado também por
estudantes foi aos pouco se popularizando e em mil oitocentos e quarenta e
oito, numa conferência em Cambridge, estabeleceu-se um único código de regras.
No Brasil, Charles Miller é
quem tem a honra de ser o percursor do futebol por ter a tido a feliz
iniciativa de trazer direto da Inglaterra uma bola e um conjunto de regras lá
por mil oitocentos e noventa e quatro.
Eu poderia dizer milhões de
coisas mais a respeito da história do futebol brasileiro, mas só pelo fato do
mundo inteiro nos conhecer como “O País do Futebol” fico por aqui.
Agora, no futebol nacional
temos uma particularidade que não pode passar despercebida. É o treinador. E
porque isto? Simples, segundo os dados do Censo Demográfico de dois mil e dez, a
população total brasileira é cento e noventa milhões, setecentos e cinquenta e
cinco mil, setecentos e noventa e nove brasileiros.
E todos se acham um pouco
treinador. Não tem quem não dê o seu pitaco na escalação da Seleção Brasileira
ou no time do seu coração. E aja coração porque alguns torcem para mais de um
clube.
Daí o que acontece quando um
time vai mal? Sobra para o treinador e a cabeça dele é a primeira a rolar.
Mas nem tudo é desgraça
neste mundo cruel. Há neste seleto grupo o “Salvador da Pátria”. Aquele que na
hora da vaca ir para o brejo é chamado às pressas para reorganizar e dar um
novo rumo aos acontecimentos esportivos.
Homem da confiança dos
diretores chega com poder absoluto. Um Midas com a tarefa de transformar limões
em limonada ante a escassez do precioso metal.
Às vezes, é preciso mais
ainda. E para resgatar um projeto vai se atrás da “Pedra Filosofal” porque na
alquimia do esporte é preciso transformar uma engenharia que deu errada em algo
brilhoso e de pleno sucesso.
E foi isto que o G. E.
Brasil fez ao recontratar o treinador Rogério Zimmermann.
Diante do abismo eminente
representado pelo Z4 e pelas perdas financeiras e de prestígio praticamente
certas, trouxe de volta aquele que já mostrou ser capaz de transmutar fracassos
em resultados honrosos.
Agora é bola prá frente. Com
muito trabalho e gols porque bola na trave não altera o placar. Não vai ser um
primor de futebol, sabemos. Mas gol de canela também vale.
Foto: Carlos Queiroz
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