Postado em 15 de fevereiro de 2018 por Juremir Publicado em Uncategorized
Nada mais clássico do que o tema da manipulação pela mídia. A resposta
padrão a essa acusação recorrente é: teoria da conspiração. Volta e meia,
porém, a chamada mídia convencional resolve provar que tem culpa no cartório. A
televisão vem sangrando por causa das redes sociais e das novas tecnologias. A
geração Netflix não quer saber de tevê tradicional. A perda de audiência é um
fantasma que apavora os até agora donos da imagem, do poder, do imaginário e do
que vemos. Apesar disso, a velha televisão não para de cometer antigos erros
como tentar esconder a realidade do telespectador. O desfile da Paraíso do
Tuiuti, do Rio de Janeiro, é o que se chama de “caso de escola”.
Como se diz para ficar mais impactante,
um “case” para monografias, dissertações e teses de doutorado. A Tuiuti detonou
Michel Temer, representado como “vampirão neoliberalista”, e o seu governo. A
televisão fez tudo para esconder o desfile. A Rede Globo não teve como encobrir
as imagens ao vivo, mas os apresentadores da casa pagaram mico com longos
silêncios constrangedores. No dia seguinte, os telejornais trataram de editar a
passagem da escola resumindo-a a um lacônico “fez críticas sociais e
políticas”. Enquanto isso, na internet, a ironia comia solta. A reforma
trabalhista de Temer foi comparada a um retorno à escravidão. Silêncio quase
total na primeira hora.
As piadas nas redes sociais moeram a
mídia. A Tuiuti zombou dos chamados paneleiros coxinhas, aqueles que ajudaram a
derrubar Dilma Rousseff e depois sumiram, e de todas as instituições atoladas
em suas contradições. O tom do humor foi este: MBL vai à justiça por escola de
samba sem partido; MPF denuncia Tuiuti como pertencendo aos filhos de Lula; viu
o vampirão na televisão? Não, ele atravessou o samba e foi cortado. Um fiasco.
É assim que a televisão perde credibilidade. Arrogante, pensando estar nos seus
tempos de soberania absoluta, ela só queria diminuir o “estrago” protegendo o
governo do ridículo da sua própria trajetória e do desvendamento da sua
existência tragicômica.
A repercussão do desfile da Tuiuti foi
internacional. Na Europa, jornais falaram do inusitado: uma escola de samba
denunciando ao vivo e em ritmo frenético de samba um “golpe de Estado” e
criticando as reformas impopulares de um governo chamado de ilegítimo. Como
dizem os franceses, “du jamais vu”. Algo nunca visto antes. Um jornal francês
descreveu o que os telejornais brasileiros ignoraram: “Paraíso da Tuiuti fez o
presidente Michel Temer, acusado de corrupção, desfilar como Drácula. Sobre um
monte de dinheiro, o mais impopular dos presidentes brasileiros desde o fim da
ditadura (1985) foi representado com cédulas coladas sobre penas de pavão”. Esses
detalhes não chamaram a atenção de nossos minuciosos comentaristas. Que coisa!
O pessoal de vez em quando cochila. Uau!
Agora sempre que alguém perguntar “a
mídia manipula mesmo?”, a resposta será: “Claro, óbvio”. Diante do tradicional,
“mas não é teoria da conspiração?”, a resposta será: “Basta ver o que fizeram
com a Tuiuti”. O tempo em que as coisas só existiam se passassem na tevê
acabou. A televisão ainda não sabe disso. A Globo tentou se recuperar com 48
horas de atraso. Está melhorando. Antes ela levava 50 anos.
A Tuiuti foi vice. Mas o seu vice é
Michel Temer, aquele que é sem nunca ter sido.
A Beija-Flor ganhou com o seu pior
desfile.
Um case de escola de samba não será
esquecido.
Dá tese.
– Juremir Machado da Silva –
Correio do Povo – 15fev18
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