segunda-feira, 3 de setembro de 2012

'paulistanização' de CBF


03/09/2012 10h05 - Atualizado em 03/09/2012 10h05

Jogo no Morumbi confirma processo de 'paulistanização' de CBF e Seleção

Presença de paulistas nos principais cargos e aproximação com o estado divide o poder e irrita outras federações, favoráveis a novas eleições

Por Alexandre Lozetti e Leandro CanônicoSão Paulo
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A seleção brasileira voltará a jogar no Morumbi depois de cinco anos e o acontecimento não é um mero acaso. Desde a renúncia do ex-presidente Ricardo Teixeira, mineiro que fez sua história como dirigente no Rio de Janeiro, a Confederação Brasileira de Futebol está cada vez mais próxima de São Paulo. Seus homens mais fortes são um exemplo disso. Hoje, a entidade é comandada por José Maria Marin, ex-governador do Estado, ex-presidente da Federação Paulista de Futebol e também ex-jogador do São Paulo.
Além de Marín, apitam com força na CBF o atual presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, e o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanches, de ligações fortíssimas mantidas ainda hoje com o clube alvinegro. Del Nero é o vice que tem acompanhado Marin em eventos, viagens e reuniões, e principal favorito a sucedê-lo, enquanto Andrés é o diretor de seleções. Alçado ao cargo ainda sob a batuta de Teixeira, ele tem influência política e é próximo de Mano Menezes, técnico da Seleção e seu antigo funcionário no Timão.
José Maria Marin presidente da CBF marco polo del nero (Foto: Marcelo Baltar / Globoesporte.com)José Maria Marin ao lado do vice-presidente Marco Polo Del Nero (Foto: Marcelo Baltar / Globoesporte.com)
Político, Marin logo tratou de desatar um dos nós que marcavam a administração da CBF: o mau relacionamento do seu antecessor com a diretoria do São Paulo, ampliado com a queda do Morumbi da Copa do Mundo de 2014, preterido pela construção da Arena Corinthians, e por estarem em lados opostos na eleição do Clube dos 13. Marin, de relação antiga com o Tricolor, se reaproximou e levou o amistoso contra a África do Sul para o estádio são-paulino, além de ter escolhido o CT de Cotia, onde treinam as categorias de base do clube, para ser local de preparação e concentração da Seleção durante cinco dias.
Andrés, entretanto, continua tendo uma péssima relação com os dirigentes do São Paulo, que o acusaram de dificultar a transferência de Lucas para o PSG, no valor de 43 milhões de euros (R$ 108 milhões), a maior da história do futebol brasileiro, durante as Olimpíadas.
Internamente, a principal mudança sentida na CBF após a "paulistanização" foi a descentralização do poder. Antes, Ricardo Teixeira mandava em tudo e não falava com ninguém. A postura dos dirigentes, de acordo com pessoas que vivem a rotina da entidade, mudou muito. Marin adora dar entrevistas e não foge de perguntas, totalmente ao contrário de Teixeira, além de abrir espaço para que seus vices, diretores e até mesmo encarregados de outras funções, como a arbitragem, se manifestem publicamente.
- Eu sempre delego funções, faz parte da minha história na vida pública, mas com muita responsabilidade - afirmou, recentemente, o atual presidente.
José Maria Marin marco polo del nero arena palmeiras  (Foto: Marcos Guerra / Globoesporte.com)Marin entre Del Nero e Arnaldo Tirone, presidente do
Palmeiras (Foto: Marcos Guerra/Globoesporte.com)
A transformação do predomínio carioca, garantem os funcionários da CBF, não foi vista sob o panorama da velha rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo. Mas dirigentes de outros estados não gostaram nem um pouco da transição de Teixeira para Marin, que assumiu por ser o vice mais velho (ele completou 80 anos em 2012) e tem transitado pelos clubes paulistas. Recentemente visitou as obras da nova arena do Palmeiras e até vestiu a camisa do clube. E, no último domingo, foi ao estádio da Rua Javari assistir ao jogo do Juventus contra o Palmeiras B.
Liderado pelo presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Francisco Novelletto, um grupo pediu que fossem realizadas novas eleições, antes ainda que Ricardo Teixeira anunciasse sua saída. A CBF vive momentos de tranquilidade com a presidência de Marin, especialista em fazer política com suas filiadas, mas tem certeza de que, depois da Copa do Mundo de 2014, Novelletto e seus parceiros voltarão com força para tentar ganhar espaço na entidade.
No fim do ano, mais um capítulo da aproximação da CBF com os paulistas será marcado com a festa, em homenagem aos destaques do Campeonato Brasileiro. Marin já afirmou que vai realizá-la em São Paulo, assim como no ano passado, porém totalmente reformulada. Ainda não se sabe detalhes, mas sua ideia é que apenas os melhores em cada posição tenham espaço, em vez dos três primeiros. Mas ele diz, a quem quiser ouvir, que o evento será mesmo em sua cidade natal.
A seleção brasileira se apresenta na noite desta segunda-feira em Cotia, e na terça inicia os treinos para a partida de sexta contra a África do Sul, no Morumbi.

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