Arcanjo: Anjo da Ordem Superior; o Primeiro dentre os Anjos.
Talvez, ainda não seja totalmente compreensível o texto a seguir transcrito, pois seu nascedouro parte de fragmentos do intelecto desse Xavante inveterado. Também não estou muito preocupado com isso, pois sei que, mesmo tropeçando em palavras, ou, pior ainda, em pedras, podemos tirar verdadeiras pérolas da mente humana.
Nesse momento, apenas quero externar minha eterna saudade daquele que, em vida, conseguiu fazer tudo aquilo que nós Xavantes sonhamos fazer: torcer e jogar; jogar e torcer por esse emblema ímpar dos pagos gaúchos. Poucos vestiram essa camisa com tanto amor; poucos, estando dentro das quatro linhas, torceram tanto pela vitória do nosso Xavante.
Roberto Claudio Milar Decuadra, o Arcanjo Xavante, com certeza, tornou o Time Celeste imbatível. Não me surpreenderia em saber (através de um mensageiro) que o próprio Mané Garrincha esteja dando um tempo na reserva. Sim, porque no primeiro escanteio que Milar fosse bater, todos os camisa 7 passariam a reserva.
Com a chegada de Claudio Milar ao Paraíso, São Pedro passou a ter trabalho dobrado; todos os atletas que estão no Purgatório aguardando sua vez de entrar, passaram a pressionar, querendo ver os dibles, a seriedade e a alegria que nós Xavantes estávamos acostumados a curtir. O próprio "chefão da turma de baixo", alegando ser dos vermelhos, ajoelhou-se com a maior cara-de-pau, jurando se redimir (Agora já era...), na ânsia de ver um dos muitos gols de Milar.
No dia 6 de abril de 1974, ao nascer, o atacante uruguaio surpreendeu sua parteira, pois antes mesmo da palmada preparatória para a vida, ele gritou: Gooooooool! Desde aquele instante os campos do Uruguai, da Argentina, da África, de Israel, da Polônia e do Brasil já sabiam da garra, da habilidade e do amor que transcenderiam a vida terrena. No País do Futebol ele jogou em times do Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Entre todas essas plagas, a Princesa do Sul - Terra Xavante, foi a escolhida. Na casa do primeiro campeão gaúcho ele instaurou seu reinado. Foram 208 jogos com a camisa Rubro-Negra. Entre um chimarrão e outro marcou 110 gols a favor da "Maior Torcida do Interior".
Só em 2004, foram 33 gols e a consagração perante a Torcida Xavante, tornando-se o maior artilheiro em uma única temporada da história dos campeonatos gaúchos.
Claudio Milar, um predestinado, honrou sua terra natal e engrandeceu o chão onde tombou. Era um cidadão de dupla nacionalidade, confirmando as raízes do povo uruguaio e dos gaudérios dos pampas. Sendo um uruguio/brasileiro, sempre será lembrado com carinho por essas duas pátrias.
O testemunho, quase unânime, daqueles que conviveram com Milar é recheado de palavras belas como foi a vida dele: "Simples, carismático, excelente ser humano, atleta exemplar..."Nesse momento sinto um aperto em meu coração... Tento mandar a dor para escanteio e eis que vislumbro aquele lance magistral: o goleiro, coitado, estapelado na grama... A bola, linda, bela, sorridente, mansamente aconchegando-se no cantinho da rede... Essa, num suave bailar, qual ondas em noites calmas, diz discretamente: esse gol é do Milar!
Milar não apenas jogou no G. E. Brasil. Nosso Arcanjo, sorriu, suou, sangrou... Deu-nos o exemplo da serenidade nos momentos difíceis. Mostrou o caminho da esperança de um futuro campeão. Suas atitudes sempre foram claras. Determinado que era, selou seu testamento: "Vou encerrar minha carreira aqui no Xavante".
Almunhoso 040609
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