segunda-feira, 25 de maio de 2020

UMA DAS MELHORES ANÁLISES SOBRE BOLSONARO


Texto escrito pelo professor Ivann Carlos Lago, sociólogo, mestre e doutor em Sociologia Política. É professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Atua nas áreas de Teoria Política, Instituições Políticas e Regimes de Governo, Cultura e Comportamento Político, Partidos e Eleições.
O JAIR QUE HÁ EM NÓS!
O Brasil levará décadas para compreender o que aconteceu naquele nebuloso ano de 2018, quando seus eleitores escolheram, para presidir o país, Jair Bolsonaro.

Capitão do Exército expulso da corporação por organização de ato terrorista; deputado de sete mandatos conhecido não pelos dois projetos de lei que conseguiu aprovar em 28 anos, mas pelas maquinações do submundo que incluem denúncias de “rachadinha”, contratação de parentes e envolvimento com milícias; ganhador do troféu de campeão nacional da escatologia, da falta de educação e das ofensas de todos os matizes de preconceito que se pode listar.

Embora seu discurso seja de negação da “velha política”, Bolsonaro, na verdade, representa não sua negação, mas o que há de pior nela. Ele é a materialização do lado mais nefasto, mais autoritário e mais inescrupuloso do sistema político brasileiro. Mas – e esse é o ponto que quero discutir hoje – ele está longe de ser algo surgido do nada ou brotado do chão pisoteado pela negação da política, alimentada nos anos que antecederam as eleições.

Pelo contrário, como pesquisador das relações entre cultura e comportamento político, estou cada vez mais convencido de que Bolsonaro é uma expressão bastante fiel do brasileiro médio, um retrato do modo de pensar o mundo, a sociedade e a política que caracteriza o típico cidadão do nosso país.

Quando me refiro ao “brasileiro médio”, obviamente não estou tratando da imagem romantizada pela mídia e pelo imaginário popular, do brasileiro receptivo, criativo, solidário, divertido e “malandro”. Refiro-me à sua versão mais obscura e, infelizmente, mais realista segundo o que minhas pesquisas e minha experiência têm demonstrado.
No “mundo real” o brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto (nas letras, na política, na ciência... em quase tudo). É racista, machista, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, fofoqueiro, desonesto.
Os avanços civilizatórios que o mundo viveu, especialmente a partir da segunda metade do século XX, inevitavelmente chegaram ao país. Se materializaram em legislações, em políticas públicas (de inclusão, de combate ao racismo e ao machismo, de criminalização do preconceito), em diretrizes educacionais para escolas e universidades. Mas, quando se trata de valores arraigados, é preciso muito mais para mudar padrões culturais de comportamento.

O machismo foi tornado crime, o que lhe reduz as manifestações públicas e abertas. Mas ele sobrevive no imaginário da população, no cotidiano da vida privada, nas relações afetivas e nos ambientes de trabalho, nas redes sociais, nos grupos de whatsapp, nas piadas diárias, nos comentários entre os amigos “de confiança”, nos pequenos grupos onde há certa garantia de que ninguém irá denunciá-lo.
O mesmo ocorre com o racismo, com o preconceito em relação aos pobres, aos nordestinos, aos homossexuais. Proibido de se manifestar, ele sobrevive internalizado, reprimido não por convicção decorrente de mudança cultural, mas por medo do flagrante que pode levar a punição. É por isso que o politicamente correto, por aqui, nunca foi expressão de conscientização, mas algo mal visto por “tolher a naturalidade do cotidiano”.
Se houve avanços – e eles são, sim, reais – nas relações de gênero, na inclusão de negros e homossexuais, foi menos por superação cultural do preconceito do que pela pressão exercida pelos instrumentos jurídicos e policiais.

Mas, como sempre ocorre quando um sentimento humano é reprimido, ele é armazenado de algum modo. Ele se acumula, infla e, um dia, encontrará um modo de extravasar. Como aquele desejo do menino piromaníaco que era obcecado pelo fogo e pela ideia de queimar tudo a sua volta, reprimido pelo controle dos pais e da sociedade. Reprimido por anos, um dia ele se manifesta num projeto profissional que faz do homem adulto um bombeiro, permitindo-lhe estar perto do fogo de uma forma socialmente aceitável.
Foi algo parecido que aconteceu com o “brasileiro médio”, com todos os seus preconceitos reprimidos e, a duras penas, escondidos, que viu em um candidato a Presidência da República essa possibilidade de extravasamento. Eis que ele tinha a possibilidade de escolher, como seu representante e líder máximo do país, alguém que podia ser e dizer tudo o que ele também pensa, mas que não pode expressar por ser um “cidadão comum”.
Agora esse “cidadão comum” tem voz. Ele de fato se sente representado pelo Presidente que ofende as mulheres, os homossexuais, os índios, os nordestinos. Ele tem a sensação de estar pessoalmente no poder quando vê o líder máximo da nação usar palavreado vulgar, frases mal formuladas, palavrões e ofensas para atacar quem pensa diferente. Ele se sente importante quando seu “mito” enaltece a ignorância, a falta de conhecimento, o senso comum e a violência verbal para difamar os cientistas, os professores, os artistas, os intelectuais, pois eles representam uma forma de ver o mundo que sua própria ignorância não permite compreender.
Esse cidadão se vê empoderado quando as lideranças políticas que ele elegeu negam os problemas ambientais, pois eles são anunciados por cientistas que ele próprio vê como inúteis e contrários às suas crenças religiosas. Sente um prazer profundo quando seu governante maior faz acusações moralistas contra desafetos, e quando prega a morte de “bandidos” e a destruição de todos os opositores.

Ao assistir o show de horrores diário produzido pelo “mito”, esse cidadão não é tocado pela aversão, pela vergonha alheia ou pela rejeição do que vê. Ao contrário, ele sente aflorar em si mesmo o Jair que vive dentro de cada um, que fala exatamente aquilo que ele próprio gostaria de dizer, que extravasa sua versão reprimida e escondida no submundo do seu eu mais profundo e mais verdadeiro.

O “brasileiro médio” não entende patavinas do sistema democrático e de como ele funciona, da independência e autonomia entre os poderes, da necessidade de isonomia do judiciário, da importância dos partidos políticos e do debate de ideias e projetos que é responsabilidade do Congresso Nacional. É essa ignorância política que lhe faz ter orgasmos quando o Presidente incentiva ataques ao Parlamento e ao STF, instâncias vistas pelo “cidadão comum” como lentas, burocráticas, corrompidas e desnecessárias. Destruí-las, portanto, em sua visão, não é ameaçar todo o sistema democrático, mas condição necessária para fazê-lo funcionar.
Esse brasileiro não vai pra rua para defender um governante lunático e medíocre; ele vai gritar para que sua própria mediocridade seja reconhecida e valorizada, e para sentir-se acolhido por outros lunáticos e medíocres que formam um exército de fantoches cuja força dá sustentação ao governo que o representa.

O “brasileiro médio” gosta de hierarquia, ama a autoridade e a família patriarcal, condena a homossexualidade, vê mulheres, negros e índios como inferiores e menos capazes, tem nojo de pobre, embora seja incapaz de perceber que é tão pobre quanto os que condena. Vê a pobreza e o desemprego dos outros como falta de fibra moral, mas percebe a própria miséria e falta de dinheiro como culpa dos outros e falta de oportunidade. Exige do governo benefícios de toda ordem que a lei lhe assegura, mas acha absurdo quando outros, principalmente mais pobres, têm o mesmo benefício.

Poucas vezes na nossa história o povo brasileiro esteve tão bem representado por seus governantes. Por isso não basta perguntar como é possível que um Presidente da República consiga ser tão indigno do cargo e ainda assim manter o apoio incondicional de um terço da população. A questão a ser respondida é como milhões de brasileiros mantêm vivos padrões tão altos de mediocridade, intolerância, preconceito e falta de senso crítico ao ponto de sentirem-se representados por tal governo.

sábado, 23 de maio de 2020

Estádio Bento Freitas 77


Tchê! Para mim, falar do Bento Freitas é falar de minha casa. Quem sabe de minha alma até. Torço e vibro em suas Arquibancadas desde os anos sessenta e pouco. De mil novecentos e sessenta e três para cá é certo que sempre estive Lá. Mas de repente antes disso eu já sentia o impacto deste monumento da Princesa do Sul.

Daí eu digo que é justo, verdadeiro e célebre o que o consagrado Ruy Carlos Ostermann escreveu nas páginas de Zero Hora: “Se pudesse e não parecesse um incômodo ou impertinência, estaria no Bento Freitas esta tarde. Foi lá que tive as mais profundas experiências de um estádio de futebol. Já os vi (estádios) de todos os tamanhos e os senti. Wembley é o mais solene, grandeza como a do Maracanã não há outra, em Turim cravaram no meu coração o Delle Alpi de Maradona e Caniggia, o Sarriá ainda dói, e o estádio do Everton, em Liverpool, será sempre a minha maior vergonha. Mas o Bento Freitas é uma experiência de elevação, dor e alegria, de superação dos indivíduos convertidos numa massa se movendo para cima e para baixo, para os lados, ao som dos trompetes e dos tambores, com todos os gestos, como na noite do jogo contra o Flamengo, ou tantas outras, bem menos glamorosas, mas de febre alta e tensão de pele. É ISSO, NÃO HÁ ESTÁDIO MAIS HUMANO!!”.

Quantas emoções a Torcida Xavante teve neste Caldeirão que a todos irmana independente de cor, credo, política, seja lá o que for. Ali o que vale é a paixão pelo G. E. Brasil. O “Clube do Povo” tem um histórico comprometido com a massa sofrida. Aquela que, faça chuva ou faça sol, está lá nas eletrizantes Arquibancadas.

Estádio, Torcida, Brasil, um trio único que atravessa gerações sempre na mesma batida. Batida de luta, sofrimento até, mas nunca desistência. Enfrentamentos heroicos seja contra um Riopardense ou contra um Flamengo de Zico, Zagalo e companhia.

Enfim setenta e sete anos. Momentaneamente calado por esta pandemia que se alastrou mundo afora. Mas que ressurgirá tão belo e vibrante como antigamente.

Estádio Bento Freitas, palco onde a alegria do Torcedor Xavante é ver o G. E. Brasil jogar. Não o importa o adversário, o que conta é a massa fervorosa que jogo a jogo sempre se faz presente.

Dá-lhe Brasil!

Bento Freitas - sinônimo de Torcida Xavante

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Cabungo

"... vou interferir..." e dá uma olhadinha clássica para o lado para ver a reação do seu par à esquerda que está ali, quietinho, sabendo que o tiro vai sair pela culatra. Putz! Fedeu! #forabolsonaro



terça-feira, 12 de maio de 2020

Não assina


Tchê! É matemática pura! Concordar com a sequência do Gauchão sem descenso e somar os dois que cairiam este ano no ano que vem é assinar noventa e tantos por cento de queda para Nós.

Não assina isto Ricardinho!


domingo, 10 de maio de 2020

Minha mãe tem um coração enorme

Na minha aula de sexta-feira, pedi aos meus alunos que escrevessem um depoimento sobre a mãe deles... Então, resolvi fazer o meu depoimento também, prepara que lá vai o textão:
Minha mãe tem um coração enorme... ❤️
Se eu tivesse que escolher uma palavra para descrevê-la seria "doação".
Ela se doa, se preocupa com todos, está sempre "disponível", tentando ajudar, muitas vezes parece que tenta abraçar o mundo...

Ela é uma avó maravilhosa... Os dois (avó e neto) se falam com os olhos, por telepatia... Chegam a rir de algo sem nenhuma palavra, como se tivessem um "código secreto"... Quando penso na relação dela com o Gabi, lembro da minha avó, que me paparicava com comidinhas e laranjinhas do céu... Eu lembro do sabor da comida da minha avó até hoje pq com certeza, "comida de vó", tem um sabor diferente...
Um dia desses de quarentena, na hora do almoço, Gabi disse: -Mãe, tu pode fazer um arroz que nem o da vó? Quando eu ouvi isso, tive vontade de chorar... Morri de saudades desse "arroz" também.
Saudade da comida, dos abraços e do nosso contexto diário, pois sim, fazia parte da minha rotina ir na casa da minha mãe 2x ao dia.
Minha mãe também tem grandes habilidades... Costura, faz artesanatos, tricô, crochê, bonecos de feltro, etc... Aprende de um dia para o outro alguma técnica diferente, principalmente se eu falar alguma coisa que tenha vontade de ter... Tem toda essa flexibilidade para aprender coisas diferentes, mas tem problemas com controles de televisão e ar condicionado... Olha a "resistente" aí... kkkkk
Minha mãe adora uma novela, pode ser nova ou reprisada... Ela adora, se envolve, senta do ladinho da TV... Também gosta de criar "novelas" imaginárias, quando está preocupada com alguém, ou com alguma coisa... kkkk
Minha mãe adora livros, gosta de crônicas, histórias de vida real... E, de vez em quando, gosta de escrever textos lindos de se ler, espelhando através deles, toda a sua verdade, empatia e doçura...
Minha mãe é meu exemplo! Exemplo de mãe, trabalhadora, independente, humilde e amorosa... Exemplo de pessoa que sabe dar valor ao que realmente importa na vida!
Te amo mãe!
Obrigada por ser a minha mãe!
Obrigada pela presença, pelo cuidado e por todos os ensinamentos de vida...
Feliz dia das Mães!

❤️❤️❤️
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Báh! Eu nunca vi minha filha escrever um textão. E já chegou solando. Mas, claro, o tema era fácil. Ana Paula, só não vou dar nota mil porque tu pulou a fase da tua adolescência. Ali sim, foi a maior prova do quanto a tua mãe é especial.


quinta-feira, 7 de maio de 2020