Ufa! Enfim a primeira
vitória de dois mil e dezessete aconteceu. Foi pela Primeira Liga, num jogo
contra o Criciúma de Santa Catarina, no Estádio Bento Freitas, por dois a um.
Sua Santidade, o Papa, abençoou-nos com dois gols em noite festiva para a
Torcida Xavante.
Do Time, ainda há pouco
a falar e a premissa de uma zaga formada por Evaldo e Leandro Camilo pode trazer
noites de sono mais tranquilas. Nas laterais, eu ficaria com Marlon e Wender e
fincaria Leandro Leite como um destroier à frente dos defensores. Podem mandar
fazer as figurinhas de Nem, Lenílson, Aloísio e Jean Silva também. Se corrigir
os chutões em direção ao nada, é claro que Eduardo Martini continuará a ser o
número um do Brasil. Quanto ao centro-avante, bem, não tem outra, tem que ir às
compras.
Quando o Time não
encanta em campo, sobra tempo para observar outras coisas. Sim, porque não é à toa
que o Bento Freitas é o Estádio mais humano que existe. De rondão vejo os treme
terra da Garra Xavante rompendo caminho em direção à arquibancada “provisória”
no seu ritual de décadas.
No vácuo do ritmista
deslizo feito bolacha em boca de véia e chego num segundo ao lugar mais alto da
Arquibancada. Ali é meu altar. Ali sou canonizado como membro inconteste d’A
Maior e Mais Fiel Torcida do Interior. Da panorâmica, vejo que ainda é cedo e
poucos estão no Estádio.
Uma luz ofusca minha
vista deixando-me como morcego em pleno meio-dia. O que é isto? Pergunto a mim
mesmo num monólogo finito e sem resposta. Restabelecido do clarão, vejo a
realidade e sorrio satisfeito com a novidade. São os novos refletores do
Estádio Bento Freitas. Sei que a parceria foi grande, mas só consigo lembrar
nesta hora de Carlos Renato Costa Moreira. Ele vai ficar “puto da cara” comigo
por citá-lo, azar, ele merece os créditos numa justa gratidão por seu trabalho
a favor do G. E. Brasil ao longo dos anos.
Com a bola rolando, as
atenções passam para o Onze Rubro Negro e ganhar é a única possibilidade que eu
admito para esta noite. Não quero ver o circo pegar fogo, antes pelo contrário,
só estou a fim de farra e de comemorar. Sem um pila no bolso, a cerveja foi
dispensada e o bom e velho churrasquinho de gato está longe do meu alcance
então o negócio é xingar bem o juiz. Não sou de ver o jogo “técnico ou
taticamente”. Isto é coisa para europeu ou assinante de “pei-per-viu”. Daí,
para mim, o Brasil tem que ganhar, ganhar ou ganhar.
O time de Santa
Catarina veio com uma gurizada sub-20. Sabem jogar direitinho, bonito até, mas
tropeçaram na experiência de Gustavo Papa que estava em noite diferenciada. Aos
trinta e aos quarenta e um minutos do primeiro tempo Sua Santidade estufou as
redes fazendo-me sorrir de orelha a orelha num prazer aprisionado desde o
início do ano. Foi de lavar a alma e restabelecer o corpo para as próximas
partidas. É assim que eu sou, sem firulas, só paixão.
No intervalo do jogo
foi só contemplação. Na minha cabeça, a rapadura estava liquidada e era hora de
observar o movimento da Torcida. O auê de quem está ganhando é bem diferente e
as preocupações somem como dinheiro antes do mês findar.
Como tem ido mulheres e
crianças aos jogos do G. E. Brasil e ver as famílias no Bento Freitas é um
colírio para quem acredita que podemos crescer mais e mais. Com minha Canon vou
registrando esta metamorfose e uma cena fisga o meu coração. Um pai
pacientemente deixa seus filhos curtirem a sensação de ver o jogo grudado na
tela. Uma mistura de orgulho e felicidade deve comandar as batidas do coração
dele neste momento. Quantas vezes ele mesmo já não deve ter feito esta proeza?
Raramente eu vejo o jogo grudado na tela. É só em ocasiões especiais e eu
geralmente estou com muita gana. Dá vontade de entrar em campo...
Na contra mão, vejo a
nova Arquibancada fechada, isolada, inerte, cabisbaixa a implorar a glória de
sentir o pulsar da Torcida Xavante novamente. Foi um parto sua construção.
Liberada aos trancos e barrancos, lotou na estrondosa vitória contra o Vasco da
Gama e curtiu o jogo diante do CRB quando ganhamos também. Faltam detalhes para
o seu uso pleno e o prazo dado era o suficiente não fosse o ruído na linha.
Felizmente, as
bandeiras voltam a tremular na Baixada. E a Torcida Organizada “Comando Rubro
Negro” liderou a festa. Um show! Nada se compara a um mar de bandeiras num
estádio de futebol. De alma lavada, voltei para casa. Louco que chegasse o dia
do novo jogo do G. E. Brasil. Não me importo se pelo Campeonato Gaúcho,
Primeira Liga, Campeonato Brasileiro ou até amistoso. Eu quero é jogo. Mas
tenho a minha condição absoluta. É ganhar, ganhar ou ganhar. E se o juiz
“atrapalhar” e dar uma força para o adversário? Bem aí também me vou para a
tela.
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