Cheguei ao Estádio Bento
Freitas cedo. Ainda palpitava no meu coração aquela vitória contra o Criciúma.
Dois gols de Sua Santidade, o Papa, deixa qualquer Xavante em estado de êxtase.
Na verdade, ando meio cabreiro, sestroso até e para a peleia de hoje não
poderia chegar de sangue doce. É jogo de Gauchão, cavernoso e no momento atual
qualquer vacilada rasga como corte de adaga. Com um pontinho na tabela é hora
de afiar os cascos e partir para a briga com tudo.
Contra Nós, um velho
conhecido, o Ypiranga da cidade de Erechim. Este está marcado a ferro e fogo
porque foi o primeiro clube a manifestar-se contra a participação do G. E. Brasil
no campeonato de 2009 sem o risco de ser rebaixado. Para quem não sabe ou não
se lembra, na ocasião o ônibus que conduzia a delegação Xavante despencou numa
ribanceira vindo a falecer Claudio Milar, Régis e Giovani. Além das perdas
irreparáveis, diversos atletas sofreram lesões graves e o Clube teve que montar
outro Time a menos de uma semana do início da competição. Como o campeonato
tinha que iniciar na data prevista, deram uns quinze dias para o Brasil preparar
o novo Time. Jogadores contratados às pressas, sem condições físicas, de
técnica limitada, o fracasso era anunciado aos quatro cantos do mundo. E foi o
que aconteceu. Para recuperar o tempo, a FGF impôs jogos de dois em dois dias.
Foi uma carnificina e ganhar uma única partida foi a maior glória daquele ano.
Enfim, o tempo passou.
Após penar três anos na famigerada Segundona, fizemos um dois mil e treze brilhante
e reconquistamos o nosso espaço no campeonato maior do Rio Grande do Sul.
Depois da conquista do Acesso, o Brasil foi Campeão do Interior nos anos de
dois mil e quatorze e dois mil e quinze sacramentando o seu destino no futebol
gaúcho. E não ficou por aí. No âmbito nacional também esbanjou categoria e além
de duas participações na Copa do Brasil, trilhou o caminho da Série D, Série C,
chegando a Série B do Campeonato Brasileiro demonstrando a recuperação
futebolística após aquela desgraça.
Fora das quatro linhas
o G. E. Brasil também demonstra pujança. Além da organização administrativa,
partiu para a reconstrução total do Estádio Bento Freitas. É certo que, ao
finalizar esta grande façanha, estará em pé e igualdade com os maiores do
Estado. Isto é fácil de prever porque o patrimônio mais importante o Xavante já
o tem há muito tempo. É a sua Torcida. “A Maior e a Mais Fiel” garantirá as
conquistas que hão de vir num futuro bem próximo.
Junto aos milhares que
hoje assistiram a vitória do G. E. Brasil frente ao Ypiranga de Erechim estava
o Rafael. Pouco gritou. Mas seus olhinhos infantis brilhavam e corriam prá lá e
prá cá não querendo perder um lance. Hora olhava para o campo; hora olhava para
a Torcida; hora olhava para esse maluco aqui que não parava de fotografá-lo.
Sorriu mais ainda
quando Gustavo Papa fez um a zero para o Brasil. Por um instante pensei que o
Rafael ia voar. Mas não, eram os braços de seu pai que o levantaram o mais alto
possível. Como uma oferenda a dizer: “Olha Rafael! Um a zero para o Brasil!”. E
assim foi o jogo todo. Em campo, o Brasil dando de relho no Ypiranga de Erechim;
na Arquibancada, a Torcida Xavante pulando na batida da Garra. E o Rafael? Bem,
o Rafael ora estava no colo do pai; ora estava no colo da mãe. Claro, às vezes
voltava para o mundo dele e batia um papo com o universo de anjos que
festejavam aquele momento numa comunhão que só os inocentes sabem fazer.
Com seus três ou quatro
aninhos, Rafael não viu o segundo gol do Brasil. Nem o berro da Torcida Xavante
o acordou. Nem precisava, dormia feliz, curtindo seu bico e certo da vitória
conquistada. Seu celebro já registrara o momento e de certo um dia Rafael
contara para seus filhos e seus amigos dessa noite. A noite de seu primeiro
jogo no Estádio Bento Freitas. Foi uma grande vitória. De lavar a alma e
serenar os corações. De fato, nada melhor para dormir em paz.
Rafael, o Brasil jogou
com: Eduardo Martini; Éder Sciola, Cirilo, Leandro Camilo e Marlon; Leandro
Leite, João Afonso, Lenilson, Aloísio (Wender) e Marcinho (Jean Silva); Gustavo
Papa (Galiardo) – Técnico: Rogério Zimmermann. Gustavo Papa fez um a zero aos
trinta e dois minutos do primeiro tempo e Jean Silva aos quarenta e oito
minutos do segundo tempo fez dois a zero, placar final da partida. Foi uma
linda noite, com uma vitória importante e a Torcida Xavante saiu em festa.
Rafael é filho de
Arileno e Luciana e representa bem o a eterna renovação da Torcida Xavante. É
de pai para filho. É de mãe para filho. Numa contínua procissão de amor ao G.
E. Brasil. É lindo, muito lindo ver este fenômeno a cada jogo. Centenas e
centenas de crianças junto com seus pais, suas mães, tios, tias, vôs e vós que
seguem os passos tal qual outros pais, outras, mães, outros tios, outras tias,
outros vôs e outras vós fizeram.
Vão todos na mesma
batida, vão todos na mesma Torcida, vão todos em busca de mais esta taça. Não é
qualquer curva que vai parar “a raça do Interior”. Dá-lhe Brasil!