Sem retoque, só na emoção, reproduzo as palavras de Michel Karini no Forum Xavante. Talvez eu pudesse escrever isto antes dele mas daí teria que tomar duas ou três garrafas de cachaça. Vamos lá:
"Nos últimos jogos da fase classificatória quando o time deu uma oscilada, normal em competição com várias rodadas, parcela da torcida mostrou a sua cara, pareciam àquelas crianças chatas que nunca estão satisfeitas com nada, dá o dedo querem o braço inteiro, esperam um milagre a cada esquina, acabaram de sair duma segundona regional, sem perspectiva de nada, recheado de dívidas e insegurança, quase sem luz no fim do túnel, e agora aonde estamos, não conseguiram visualizar o trabalho bem feito, que os detalhes na prática é que fazem a diferença, que a classificação ocorre ou não por diferença mínima de pontos, esse grupo simplesmente nos tirou do inferno, quando jogávamos de igual para igual contra bagé, guarani de Camaquã, panambi, e nos colocou na elite do futebol nacional, sempre fomos fora de série, hoje temos vaga fixa. Tudo se resume nas vitórias, os três pontos, se ganha está ótimo, se a bola não entra e entra a do adversário, ninguém vale nada, tudo é resultado, reflexo desse capitalismo selvagem que corrói, por enquanto só não se paga para respirar, para ir ao banheiro sai caro, é o papel higiênico, o sabonete, a luz, o bom ar, a água para lavar as mãos, a bunda, dar descarga, mas logo estarão vendendo oxigênio pelas ruas, com impostos é claro. O ser humano é ingrato mesmo, só respeitam tudo que aconteceu até aqui graças ao acesso, se isso fosse tão fácil porque o clube demorou mais de cem anos para conquistar essa vaga, o que interessa é que chegou a nossa hora, enquanto a maioria dos clubes só disputam estaduais, uns na primeira divisão, outros na terceira ou na segunda, o GEBrasil está entre os quarenta melhores da nação num universo em torno de oitocentas agremiações em atividade, é hora de valorizar, de idolatrar, de manter e aperfeiçoar o trabalho, de acabar com essa prepotência e arrogância de acharem que é só entrar em campo e está tudo resolvido. Chegaram ao ponto de culpar o goleiro que nos salvou em várias partidas, em especial naquela contra o brasiliense nos colocando na série C, se não fossem aquelas defesas no tempo normal e nos pênaltis hoje estaríamos disputando a série D, recordar é viver, e ontem para repetir a dose num jogo decisivo novamente teve uma atuação de luxo, perfeita, nos ajudando a ingressar na série B, a ingratidão é um dos piores defeitos, nunca dão o devido reconhecimento a quem merece. Quem age como cobra só esperando para dar o bote e injetar seu veneno é parte da imprensa esportiva, por eles o Brasil nunca mais saia de dentro do estado, só jogava gauchão, são pequenos por natureza, adoram uma intriga, atirar álcool no fogo, estão descontentes com a classificação, que bom seria se a continuidade acabasse por aqui, não agüentam mais ouvir o treinador dando aulas às suas perguntas simplórias, viajar nove vezes na série C já era péssimo, imaginem daqui para frente com dezenove jogos fora, precisarão mendigar muito mais patrocínios. Chega a ser ridículo essas pessoas criticando com entusiasmo, loucos para influenciar os cegos, fingem querer que o time beire a perfeição, entretanto, são uns Zé ninguém da vida falando besteiras que lhes convêm, para eles o certo é quem disputa as divisões estaduais inferiores, gastam pouco, não saem do RS, não sentem emoções. Nos momentos de dificuldades tentaram criar turbulências com o intuito de atrapalhar a sequência do campeonato, não consigo mais ver o futebol dessa maneira, queda de rendimento, perda de um ou outro jogador, falta de vontade, não querer crescer, as chances de gols numa partida continuaram praticamente as mesmas, quatro, sete, dez, é que às vezes a bola bate na trave ou desvia em alguém e entra, noutras bate ou desvia e sai, é um erro individual, se não ocorrer dificilmente sai gol, um erro de arbitragem, só aí já são vários pontos perdidos na tábua de classificação. O que esse grupo de pessoas que trabalha pelo Brasil alcançou é indescritível, simplesmente transformaram o clube, o sonho virou realidade (“sonhos não envelhecem”), deixamos de ser aquele time que joga para não cair, de contratar quarenta jogadores por semestre, de se entupir de débitos, o futebol é engraçado, dá muitas voltas em curto espaço de tempo, vejam o caso da ser caxias, com um patrimônio considerável em apenas poucos meses vai começar tudo do zero como se tivesse sido fundado amanhã (“Foi no mês que vem”), aí é que entra aquele papo de que para evoluir precisa ter estrutura, nem sempre, no nosso caso uma comissão técnica mais que competente e um grupo de atletas com muita fibra parece ser o suficiente, rodeados de pessoas que apostam, acreditam e bancam o trabalho. Agora que chegamos longe, é hora de perguntar: Que time é esse que ganha tudo e não tem um estádio decente para jogar, não recebe os salários em dia, não tem centro de treinamento nem categoria de base, ainda por cima conta com alguns torcedores burros e irresponsáveis que seguidamente fazem com que perca mandos de campo. Que time é esse que conquista todos objetivos e pertence a uma cidade subdesenvolvida, cercada de pobreza por todos os lados, com os corredores do pronto socorro super lotados, sem indústrias, a maior oferta de empregos é em casas de massagem para moças maiores de dezoito anos, terra de ninguém, o assalto rola solto, ainda estão no tempo da aristocracia, a velha mania de grandeza, tem uns que chegam a pagar para aparecer na coluna social. Que time é esse que subiu para a série B nacional e faz parte de um estado enganador que se intitula politizado, onde entre os 27 estados da federação é o 26º em investimentos na segurança e 25º em pagamento de salários aos professores, onde as estradas foram vendidas e os pedágios são os mais caros do país mesmo sem serem duplicadas, onde as praias têm água poluída, escura e fria, mas não se preocupem o Brasil de Pelotas vai ganhar tudo. Não é vôlei, basquete, é futebol de campo, jogado com os pés, tem que correr e chutar ao mesmo tempo, não tem movimento uniforme, praticado na rua, que a bola pica e dá no queixo, com vento, sol, chuva, cada dia é um dia, não tem lógica, qualquer coisa pode acontecer, mas com nós tem sido diferente, estamos representados por vencedores que atuam com seriedade e compromisso, pessoas que respeitam a camisa rubro-negra e sua imensa torcida proporcionalmente falando, torcida essa que precisa ser mais atuante e não comparecer só na hora de comemorar ou quando pintar algum tipo de vantagem. O futebol é um jogo, quase um jogo de azar, às vezes parece que não sabem perder, sempre terão um bode expiatório para explicar o insucesso, foi vendido, falou o que não devia, estavam bêbados na noite, não escalou esse ou aquele jogador, fez corpo mole, não tem estrutura para subir, não adianta o futebol é isso aí, uma caixinha de surpresas, caso contrário já estaria milionário acertava todo domingo na loteca esportiva da caixa econômica federal, aquela que não se diz exploradora do povo, que vende um financiamento de imóvel e ganha três em cima deste, que paga 0,6% de rendimentos na conta poupança e cobra 15% de juros na conta corrente, tudo pelo bolso do banqueiro. A nossa segurança é que temos um grupo de jogadores experientes, comprometidos com o trabalho, jogam pelo sucesso do projeto, são obstinados pelos objetivos traçados, respeitam tudo que lhes é passado e as coisas acontecem magicamente, uma comissão técnica doutro mundo, os adjetivos positivos, os substantivos abstratos fogem da raia do esporte, entram na ética, na honra, na dignidade, na moral, raridades hoje em dia, tudo isso simbolizado pelo treinador, para mim o maior ídolo da história do clube."
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