Tchê! O futebol apronta cada
uma... Como pode alguém repugnar de entrar no estádio a cinco ou seis metros de
chegar à catraca? Pois é! Isto aconteceu hoje e em pequenas pinceladas vou
relatar aqui.
Que eu sou louco, fanático e
sem vergonha de ser Xavante todo o mundo sabe e talvez daí a minha perplexidade
pelo acontecido.
Tudo começou com a decisão
da Diretoria do G. E. Brasil em baixar o valor da entrada e, além disso,
possibilitar aos Sócios que comprem um ingresso ao preço de dez reais.
Naturalmente, sou Sócio e
como tal não pago ingresso, mas resolvi proporcionar a algum Torcedor aperreado
das finanças o prazer de frequentar o Estádio Bento Freitas pelo menos por um
jogo.
Saí de casa tomando um
solzinho gostoso na cara e cheio de esperança de ver o Xavante ganhar mais uma
nesta nova fase da Equipe.
Pelo caminho um índio véio
pergunta: “Tem um cigarro?”. “Não fumo”, respondi. “O Brasil joga hoje?”, quis
saber. “Joga”, respondi sem afrouxar o passo visto que estava quase na hora do
jogo.
Daí veio um silêncio meio
estranho. Passado um tempinho ele fala de novo: “Faz uns dois anos que não vejo
um jogo do Brasil”. E já foi emendando: “Tem umas moedas para eu comprar um
cigarro?”.
Eu poderia dizer que não e
encerrar o papo ali. Mas porra! Eu tinha um ingresso de inhapa. Comprei
exatamente para dar a alguém que não tivesse grana para o jogo do Brasil.
Daí, respondi: “Moedas para
te dar eu não tenho, mas se tu quiser ir ao jogo eu tenho um ingresso
sobrando”. Os zóinhos do índio brilharam. “Tens um ingresso para mim?”. “Sim.
Tu quer?”. “Quero!”. “Então vem comigo”. E a partir daquele instante ficou
difícil eu acompanhar o passo dele.
Há uma quadra do Bento
Freitas pedi a um cara que fizesse uma foto com minha Canon para registrar a
ocasião. Prontamente ele fez e ainda deu um cigarro para o Anderson (este é o
nome do meu convidado).
Se antes meu amigo já ia
faceiro, agora pitando parecia voar de tanta felicidade. Cumprimentava todo o mundo
e, já na Butui, encontrou um conhecido tomando uma cerveja e já foi pedindo:
“Me dá um gole”. Ganhou. Pronto. Pitou, bebeu e ainda ia para o jogo do Brasil
só na graça de Deus.
A essas alturas Brasil X
Operário já estavam jogando. A entrada do Bento Freitas abarrotada de
retardatários. Na verdade a turma fica é bebendo para aplumar o gogó e poder xingar
o juiz sem dó nem piedade.
Fiz mais duas ou três fotos
e daí veio a surpresa. Meu amigo empacou igual àqueles cavalos de penca que nem
a pau saem do lugar. Agradeceu, apertou a minha mão e tomou o rumo de sua vida.
Isto a três ou quatro passos de entrar no Bento Colosso de Freitas.
Pensei em guardar o
ingresso. Mas eu sou lá de desistir? Sai à cata de alguém. Quando vi já estava
lá pelas bandas da Igreja dos Mormons.
Encontrei o Geraldão Gelo e
pedi ajuda para achar um Torcedor sem ingresso. O gelo tem um papo muito legal,
mas não largava aquela polar por nada.
Tomei o rumo do Portão já
meio satisfeito em jogar o ingresso em meus Baús. Mas eis que duas moças que
vendiam Bandeiras do Brasil me chamaram a atenção e entrei de sola: “Sei que
vocês estão trabalhando, mas alguém quer entrar para o jogo? Eu tenho um
ingresso. E de graça”.
Uma delas topou. Mal tinha
dado dois ou três passos falou: “E a minha cerveja?!?!?!”. E pegou um litrão de
Polar recém comprado e já ia se encaminhando para o Estádio. “Que isto?!?!?!
Não vão deixar tu entrar com isto”. “É. Mas minha cerveja não deixo”, ela
falou. “Então vamos tomar agora”, falei pegando o copo da mão dela e empinando
feito bêbado em abstinência secular. Praticamente secamos a garrafa e quase a
levei no colo até as catracas.
Pensam que acabou? Que nada!
“Tenho que falar com meu chefe. Ele sempre deixa eu entrar no jogo, mas é no
segundo tempo”. Puta merda! Pensei.
Ali. Na beirinha da entrada.
O chefe dela falou: “É muito cedo. Tu sabe que é só no segundo tempo”. Deu pena
ver os olhinhos dela. Mas fazer o quê?
Daí alguém pergunta: “Quanto
tu quer pelo ingresso?”. E outro quase ao mesmo tempo: “Quanto custa?”. Nada,
respondi. Outro me pediu o ingresso. “Não! Tem que entrar comigo”. E eu já ia
entrando quando finalmente apareceu o felizardo e disse: “EU QUERO!”.
Nem sei quem era. Entramos e
o jogo já transcorria há vinte e seis minutos.