Pois é! Quem diria! O
Clube Esportivo Lajeadense, da cidade de Lajeado/RS, capital do Vale do
Taguari, fez esta façanha. Empatou com o Foz do Iguaçu em 2X2 em pleno estádio
ABC com um público pagante de duzentas e noventa pessoas. Em jogo realizado dia
16/08/15, no Paraná, a equipe gaúcha com apenas oito (8) atletas em campo conseguiu
empatar, numa partida memorável e histórica. É bom lembrar ainda que o
Lajeadense é o primeiro detentor da “Tríplice Coroa Estadual” e só não botou
estrelas na camisa por motivos óbvios.
Embora alguns não
consigam relacionar a alegria do Pelotas pelo resultado do Lajeadense, os da
antiga saberão do que se trata, pois tem torcedor do Lobão que até hoje não
quer nem ouvir falar no tal “Gol de Ouro”.
Voltemos no tempo, chegando
a 2004 quando as páginas do Diário Popular estampavam a manchete “Garra Xavante Ganha o Torneio da Paz”.
Naquela oportunidade o E. C. Pelotas conseguiu perder a decisão do Campeonato
da Cidade em plena Boca do Lobo. Aparentemente nada de anormal visto que a
decisão foi contra o seu maior rival, o G. E. Brasil, num dos clássicos mais
ferrenhos e disputados do Rio Grande do Sul.
Todo o mundo sabe que
futebol é onze contra onze e dentro de campo tudo pode acontecer dando
oportunidade para qualquer clube vencer. Mas no Bra-Pel 341, a equipe Xavante
teve duas expulsões e os áureo-cerúleos não tiveram nenhuma. A festa azul e
amarela era uma questão de tempo. Imagina! 9X11! Que chance o Brasil teria?
“As duas equipes ainda
se estudavam em campo aos 17 minutos do primeiro tempo quando o Brasil perdeu
Milar, expulso ao cometer falta em Giovani. Com um homem a mais o Pelotas foi
para cima. Os indícios apontavam que seria fácil. Melhorou aos 26 minutos
quando Neuri também foi expulso após falta também em Giovani.” DP 20.02.04
Mas, mesmo com dois
jogadores a menos, “A tragédia áureo-cerúlea teve o primeiro ato aos 31
minutos. Bola na área do Pelotas. Joel raspou de cabeça e Alencar foi mole para
o balão que bateu na trave e sobrou para Careca: 1 a 0 Brasil.” DP 20.02.04
Ainda no primeiro tempo,
41 minutos, Serjão empatou o jogo dando vida ao apático time de Eduardo
Pereira. “Começa a segunda etapa com o Lobão em cima. Mauro perde chance clara
no primeiro minuto. Aos três, Jorginho cruza da direita e Giovani, livre na
área do Brasil, cabeceia sem chances para Michel Alves: 2 a 1.” – DP 20.02.04
Era astronômica a
diferença entre as duas equipes e o desnível técnico saltava aos olhos devidos
às expulsões ocorridas ainda no primeiro tempo. Claro que a torcida do Pelotas
queria goleada. Mas, futebol é futebol e quem tem uma Torcida como a Xavante
consegue as vitórias mais marcantes e surpreendentes.
“A torcida azul e
amarela vaiava a sua equipe e o Brasil soube tirar proveito disso. Foi para
cima e aos 40 minutos após um levantamento da direita Aládio sobe livre no
outro lado e de cabeça coloca a bola no centro da área para Joel, livre,
empatar, 2 a 2, para desespero da torcida áureo-cerúlea.” – DP 20.02.04
Foi a maior debandada
de torcedores de um estádio de futebol. Algo nunca visto. A hecatombe
áureo-cerúlea estava anunciada. Em contraste, a Torcida Xavante num transe sem
igual zombava a triste sina do Pelotas. Era de morrer de tanta felicidade. Ver
os adversários fugindo às pressas, sem esperar a prorrogação mesmo tendo dois
jogadores a mais em campo era profético.
Pensando em vivenciar
festa igual à ocorrida na Boca do Lobo em 2004, a Fifa chegou a cogitar a volta
do “Gol de Ouro” para a Copa do Mundo no Brasil mas, muito provavelmente, a
pedido dos alemães desistiu. Pior para a CBF porque tomamos gols de ouro, prata,
ferro, chumbo e todo o tipo de minério.
Na verdade, o Gol de Ouro
era a regra mais maluca do futebol e, na minha opinião, deveria ser acrescida
da obrigatoriedade de testes cardíacos preliminares para quem fosse assistir um
jogo com a possibilidade desse tipo de decisão. Também não está descartada a
forte intervenção da diretoria do Pelotas para banir de vez tal loucura.
O Gol de Ouro também
era conhecido como “Morte Súbita” por um motivo óbvio e ululante. Quem tomava,
perdia. E nessa toada os times vieram para a prorrogação inédita. A essas alturas,
mais do que nunca, a obrigação da vitória era do Pelotas.
“A decisão do Citadino
se inicia com o Xavante mais lúcido em campo, apesar da inferioridade numérica.
Esperava-se o Gol de Ouro ou as penalidades. Mas ninguém acreditava que o Gol
de Ouro pudesse ser do Pelotas, tamanha era a falta de objetividade dos comandados
de Eduardo Pereira. Até que aos 12 minutos da etapa inicial a bola é levantada
da esquerda e a zaga do Pelotas bate cabeça com o goleiro Alencar. Tiago
Rodrigues que não tinha nada a ver com a deficiência áureo-cerúlea deu um
peixinho e de cabeça sepultou o Lobão, para delírio da Torcida Rubro-Negra que
cantou, deitou e rolou de felicidade.” – DP 20.02.04
Não sei precisar, mas
acho que foi a partir dessa vitória homérica que a Boca do Lobo passou
definitivamente a ser chamada de “Salão de Festas” da Xavantada. Sou macaco
velho em Bra-Pel mas nunca tinha vivido tamanha alegria no campo do Pelotas e
credito esse jogo como um dos mais emocionantes e imponderáveis de minha vida.
Até hoje sinto a sinergia Time/Torcida daquela noite memorável. Dentro de campo,
nove atletas, verdadeiros guerreiros, lutando por um feito improvável. Na
arquibancada, a Massa Xavante vibrando e torcendo sem parar como se fosse o
último jogo do Clube de seu coração. Não deu outra. O Caneco foi para o Bento
Freitas.
Hoje conto e reconto
essa História numa justa homenagem àqueles que honram a Camisa do Brasil. Isto
é um estimulante. Uma prova de que nada é impossível quando “A Maior e Mais
Fiel” se abraça ao Time que está em campo. Não importa se onze, dez ou nove, se
é jogador do G. E. Brasil tem uma Nação inteira torcendo por eles.
FICHA TÉCNICA
BRASIL 3 x 2 PELOTAS
BRASIL: Michel Alves; Marquinhos, Aládio, Joel e Fabinho; Careca, Neuri,
Alexandre Bochecha (Marcos Tora) e Silveira(Paulinho); Claudio Milar e Silvano
(Tiago Rodrigues). Técnico: Rogério Zimmermann.
PELOTAS: Alencar; Jorginho, Diedo, Tárcio e Rafael Peixoto; Marcos
Rogério, Lico (Mauro), Ramon e Luís Fernando (Fabiano); Giovani (Jeferson) e
Sérgio. Técnico: Eduardo Pereira.
ARBITRAGEM: Leonardo Gaciba, auxiliado por Claudio Bandeira e Antônio
Padilha.
CARTÕES AMARELOS: Aládio, Fabinho, Careca e Neuri, do Brasil; Tárcio, Diego, Rafael, Marcos Rogério, Lico, Luís Fernando, Giovani e Sergio, do Pelotas.
CARTÕES AMARELOS: Aládio, Fabinho, Careca e Neuri, do Brasil; Tárcio, Diego, Rafael, Marcos Rogério, Lico, Luís Fernando, Giovani e Sergio, do Pelotas.
CARTÕES VERMELHOS: Milar e Neuri, do Brasil.
LOCAL: estádio da Boca do Lobo – Salão de Festas
DATA: 20 de fevereiro e 2004
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