domingo, 27 de março de 2016

Dia de Chuva

O texto a seguir surrupiei do meu amigo César Lascano. Uma maravilha publicada primeiramente no facebook da Torcida Xavante. 
- https://www.facebook.com/groups/torcidaxavante/permalink/1272974952718691/
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Grande César Lascano! Para mim (62 anos), este teu texto é sublime. De chorar corroído pela emoção. Lembro do nosso antigo Pavilhão quando, depois de muita insistência dos Torcedores, a Diretoria liberava o Pavilhão Social para o pessoal da Geral. Naquela época, sentar naquelas cadeiras não era para qualquer um porque para ser Sócio precisava ter grana. Mas o mais interessante era que a chuva que caía ali era igual ou maior do que nas Arquibancadas. Chuva tocada a vento, direto na cara mas acompanhada da acústica que afinava direitinho com A Maior e a Mais Fiel curtindo mais um momento eterno. Não dá para esquecer um bom jogo com chuva. Se tiver um carrinho do Tino então...
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Amanhã não poderei ir ao templo porque estarei viajando a trabalho, mas aos que ficam o meu recado é este...

Dia de chuva

Roda de carreta, pipoca, refrigerante, bolinho-de-chuva... ou então aquele filme, pra assistir enquanto se escuta a água batendo na janela. É mais ou menos isso que manda o figurino em dias de chuva, certo? Depende. Se houver jogo do Xavante, pouco me importam as guloseimas. Digo que tudo é frescura ou então pago até uma de “geração saúde” e digo que é coisa de gordo. E, aliás, pouco me importa qualquer outra coisa! Não preciso de desculpas, dia de jogo do Xavante é sagrado, e faça chuva ou faça sol, todo rubro-negro sabe qual é o seu lugar!

E falo de um AUTÊNTICO jogo de chuva. Sim, faço questão de reforçar que é deste clássico do futebol viril, a chuvarada, de que estou falando, pois acho, sinceramente, que ele pode ser facilmente confundido com outras ocasiões folclóricas do futebol interiorano, uma delas, por exemplo, é o “dia de murrinha”, com aquela garoa fininha batendo de lado, em que alguns até botam uma jaqueta ou um moletom mais reforçado e enfrentam a bronca. Neste dia, inclusive, os mais velhos podem usar um boné, uma touca, e até uma sacola plástica que envolverá o radinho a pilhas e, como se diz aqui no sul, segue o baile! 

Por falar em mais velhos, o pessoal que muito já vibrou no meio da massa, depois de certo período de contribuição lá no meio da muvuca, gosta de ficar mais sossegado, ali pela arquibancada do Placar ou nas sociais, e então leva um jornalzinho velho pra poder sentar em cima ou um pedaço de papelão pra poder colocar embaixo daquela almofada retangular com o escudo do Brasil (essa é “das antigas”, né?) e ver jogo numa boa.

E não tem – E nem pode ter mesmo – Xavante que condene esse ato de loucura. Ver jogo na chuvarada? O que é que tem de mal? Nada, oras! pois enquanto houver saúde, a única coisa que pode impedir tal feito é FRESCURA. Afinal de contas, qual Xavante de verdade não tem uma boa história pra contar a respeito de jogo na chuva? Jogo de roupa encharcada, mãos e pés murchos e frios e, se possível, acompanhado de uma bebedeira, de cerveja ou cachaça, (cachaça, diga-se de passagem, é melhor), de deixar quase sem voz, de fazer brotar lá de dentro do peito aquele sentimento de inconsequência com relação à tempestade. É um dos sentimentos mais genuínos em um torcedor: A Molecagem! Sim! Que se danem os raios! Eu fico aqui na bancada mesmo! Só saio quando o jogo acabar. É ruim pegar gripe? Que se dane a gripe! Pior ainda é ficar sem ver o Brasil jogar! Ah, e já vou avisando uma coisa: Se o juiz mandar parar por causa do temporal eu mando a minha sensatez para o quinto dos infernos (pra não dizer outra coisa) e digo que é um absurdo! Grito que paguei ingresso, que quero ver futebol e, de lambuja, faço aquele apelo clássico e digo que ninguém é de açúcar!

E toda essa loucura, é claro, deve vir coroada por uma grande vitória do Brasil. Uma vitória no campo lamacento, onde a bola mal pode rolar, com carrinhos e quedas que mais parecem tombos em uma piscina suja. Vitória que não parece valer três pontos, mas sim uns doze, quinze, sei lá... trinta!


Me digam! Quem nunca? Brasil x Marcílio Dias, naquela vez do Alex Martins? Brasil x Juventude, naquela vez do gauchão? Tanto faz! Não importa a época, tão pouco o campeonato ou o adversário. O que fica é aquela sensação de vitória sofrida, na raça dos jogadores que carregam o peso da armadura Xavante e, sobretudo, na raça da torcida, que canta, xinga e vibra durante o tempo todo, com trovoadas, com raios, com aquele pingo de chuva grosso, tocado a vento, que chega dar uma beliscada quando bate no lombo! 


Faça chuva ou faça sol, para a Xavantada, missão dada... é missão cumprida. - César Lascano





Esta foto é de Carlos Insaurriaga as outras não lembro no momento



Não é nada meu


Publicado a 12/03/2016
Música: Boca Nervosa
Edição de imagens: Felipe Moura Brasil

sábado, 5 de março de 2016

Minha Mãe Preta partiu

E vai ter arreda no Céu. Deus terá que tirar alguém da primeira fila porque ela chega após uma jornada terrena cheia de amor e serviço. De certo chegará sorrindo e cativando a todos só no olhar.

Para ela vai ser fácil responder à clássica pergunta Divina: “O que tu fez para merecer estar aqui?”. Antes mesmo da primeira sílaba, dezenas, centenas de outros anjos responderão por ela: “Abraçou a muitos; adotou de coração; confortou, aconselhou e serviu de exemplo de como amar ao próximo”.  Sim, Minha Mãe Preta realmente fez isso. Não se limitou a comandar o fogão, acariciar as panelas e a distribuir o tempero na medida certa.

Hoje Minha Mãe Preta partiu e um filme encheu minha vista de lágrimas. Aquele alarido de criança teimava em tornar alegre uma despedida tão dolorosa. Eram os anos sessenta e pouco quando eu tive a graça de tê-la em meu caminho lá no Instituto de Menores. Escolher feijão, descascar batata, cortar abóbora, lavar a louça eram tarefas penosas para quem só queria saber de brincar e jogar bola. Vez por outra um castigo me punha nos eixos porque eu era tinhoso, brincalhão e ágil na hora de escapar das obrigações. Cada um dos fessores ou funcionários tinha o seu próprio jeito de lidar com a gurizada de minha época. E Minha Mãe Preta também tinha o dela. Só no olhar, no sorriso, e na imensa caridade alojada em seu coração.

A bem da verdade, só enxerguei todo o amor que ela carregava no coração anos após. Já adulto, com os filhos no colo e compreendendo um pouco da vida. É incrível, mas rever Minha Mãe Preta foi como se eu nunca tivesse me separado dela. Até ali ela era apenas a dona Zenira; a cozinheira do Instituto. Nada demais. Até ela dizer: “Este é meu filho e eu sou a Mãe Preta dele”. Foi uma das maiores graças que recebi e desde então sinto uma grande paz quando falo de Minha Mãe Preta. E é esta paz que desejo a seus filhos naturais e aos de coração porque foi isto que ela transmitiu em toda a sua vida.

Minha Mãe Preta partiu e vai ter arreda no Céu. Deus Pai sabe. Ela merece um lugar na primeira fila do Paraíso. Um beijo Minha Mãe Preta!